O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

quiet is the new loud


Preenchendo quase que todos os números do calendário, paradoxalmente todas as transformações se iniciam. Mudam as cores das molduras, das paredes que me rodeiam até o ápice, dos talheres, dos móveis, dos objetos em cima da mesa. Mudam os sabores ao acordar.  Mudou a caneca do café com leite da manhã. Mudou o tom de voz. Mudou o leque de sinestesia. Mudou o ritmo da coisa. Tudo muda. Em tempos de fim de ano, acrescenta-se mais verde ao ambiente interno do apartamento, há bolas vermelhas e douradas até o teto - e luzes coloridas que iluminam toda a noite, trazendo muito mais sensações do que as que eu posso descrever aqui. Mas não são essas as cores em evidência. Há muito mais de tudo, mais do que se pode imaginar. O silêncio é muito mais do que o novo ruído, é vida.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

nur richt


Um álbum trilha magia, do começo ao fim - para inaugurar a semana.

domingo, 28 de outubro de 2012

you crazy world, crazy world yeah

Sentou-se na borda da cama na intenção de evitar o sono, e pensou: "aqui eu poderei ler o quanto quiser, não cairei na teia". Admirou o conforto de quando se muda o colchão de posição, como se tudo se acomodasse melhor, como acontece com tudo o que é novo. Inclinou-se nos travesseiros e demorou-se por ali, nas páginas do livro, na perseverança da desconstrução, nas lacunas das sílabas, no enredo da noite, na beira da cama, atenta e alerta, temendo se entregar ao sonho, hesitando chegar à inércia, lutando o quanto pudesse para não ser pega nas entranhas do pensamento, quando finalmente o sono chegasse. Mas quem poderia imaginar que a teia tem seus meios e que conseguiria, ainda que à margem, prender a sua atenção? E então, ali mesmo, ela sonhou acordada. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

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FFFFFFFFFFFFFFF
EEEEEEEEEE
LLLLLLLLLL
IIIII
Z

quando se encontra a dúvida e a transforma em planos - ficatudobemdenovo
#nerd

♥ ♥ ♥ ♥

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

terça-feira, 18 de setembro de 2012

mirror

Transbordei ao fechar os olhos, senti os pés tocarem o teto, contemplei o frio do piso branco do quarto com as mãos e deixei passar pelo pensamento todas as cores possíveis e inimagináveis. Um vinho que não trava na boca. O colocar-se em órbita, por mais que traga consequências dolorosas, justifica-se algum tempo depois, sim, em quase todos os ensinamentos que acumulei durante meus dias. Proteger-me terá sempre o mérito devido, mesmo que doa. Suspiramos, olhamos para trás, sentimos falta, diariamente, mas sorrimos, respeitamos e aceitamos,  andamos em frente. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A gente se apega aos fonemas graves que moram nos paroxítonos e se esquece da doçura das pausas no canto das frases. Focamos o azul do céu nos retratos, e talvez jamais percebamos o negro dos olhos nas faces estranhas. Cegueira e gostos amargos, por pura teimosia, e os olhos fechados, ora por não ser necessário abri-los, ora por não querer enxergar as novidades. O rosto corado denuncia, ora porque o corpo entrega mesmo aquilo que sente, ora porque se irrita com o recomeço do ciclo, tentando procrastinar o quanto puder as novidades. A ignorância perante o novo, a má vontade de se fazer entregue, a preguiça de pular a fogueira e prosseguir na trilha. Ofereceram-me o mapa da terra encantada, mas preferi a minha ilha. Chata como nunca, e ainda sou capaz de fitar apenas o vaso delineado em cima da mesa e querê-lo vazio, numa gana interminável de viver na brecha do vácuo, até onde eu conseguir. A misantropia, lá nas suas raízes etimológicas e sociais, no seu bolso mais secreto, tem embutido o meu nome, em meio aos demais casos perdidos da história. 

domingo, 2 de setembro de 2012

swallow

Como pano de fundo - os tons de bege, como trilha ambiente - o barulho dos próprios passos. No meio da sala, na junção das duas paredes, nas sombras da cortina, no perfume dos cabelos, na melodia dos ruídos - encontrei os vestígios de uma revolução. Debaixo do sofá, ali, tão discreto, descobri o bilhete das declarações, tão fora de moda quanto a mesquinhez dos anseios errados ao próximo, como faziam e ainda fazem as mesmas pessoas enfadonhas de sempre. Fora de moda, porque já são melodia de outros ouvidos. Sentir e externar o alívio da felicidade alheia é decretar missão cumprida, pois o amar de verdade resume-se em querer o bem do próximo, não importa como, não importa onde. O oposto disso é mesquinhez. É tudo, menos amor. Sinto-me livre, acho. Tudo por ter me esquivado de ser sombra do outro, afinal amar não é tudo, é preciso amar certo. Brindar às próprias decisões tomadas um dia fez de mim vencedora hoje, mesmo  que quase me afogando nas vertentes da saudade. Fiz e quis o que era correto, fui amparada pelo tempo. Optei pelo não adoecer da alma, mas sorri para o que acontecesse em seguida. Eis o mistério das coisas que dão certo: coragem para as consequências. Um abraço, uma amizade ganha, um laço devidamente colorido, uma pessoa de quem jamais me esquecerei, alguém que ficará no melhor dos lugares de mim. Um amigo que encontrei na vida para semear a nossa missão, uma pessoa inacabada já pronta para a próxima lição da vida, pronto para evoluir - um personagem de quem levarei as mais belíssimas recordações, a quem desejo o melhor, a quem eu amo, como a mim mesma. A água que corre debaixo da ponte jamais permanece igual, à medida que passam os dias. Mas são elas que lavam os nossos pés, para caminharmos sempre à frente, sempre diferente, muitas vezes em direções opostas, não importa o sentido. Um sorriso no rosto apenas já traduz. Uma andorinha só não faz verão, mas faz a sua parte.

Debaixo do travesseiro, não muito frequentemente, ainda encontro a fita do cabelo, que me enlaça quando pretendo dormir, mas que não mais sufoca - enfeita ao invés de prender como um nó. Ainda como hábito, o copo com água permanece ao lado da cama, perto do abajur. Diariamente, como sempre, me esquivo de esbarrar nele, não molhando mais uma vez o livro com as páginas marcadas por grampos coloridos. Os óculos se desprendem do rosto quando a vista já está cansada, mas ainda assim não corro o risco da cegueira das coisas - agora eu enxergo. -. Repouso-o dentro  da flanela, na gavetinha da cabeceira. Fecho os olhos satisfeita, por mais um dia que deu certo.

As coisas são totalmente simples, os caminhos são perfeitamente sinuosos, as pessoas é que complicam. Enquanto esperam que soframos e patologicamente se satisfazem com isso, mostramos que, me desculpem pelo desapontamento, a vida é algo que flui tão perfeitamente que só posso retribuir em gratidão por cada dia. Os dias têm sido de correria, não sobra tempo para nada até que eu me permita a cara de pau de sentar ao pé do computador num domingo, e pense sobre tudo. Folga de quinze minutos, vida de tantos anos e a surpresa que cabe em apenas um segundo, nos próximos milhões de minutos, porque o melhor prazer conquistado é de habitar na felicidade da solidão. Tenho microanseios e microsegredos que ainda nem conheço. Sinto euforias. Flutuo na paz. Tenho ouro nas extremidades, tenho gostos adocicados na boca e sinestesia suficiente para mais uma jornada. Respiro fundo, e vou.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

aos gostos

Encaro Agosto como o mês dos sabores, como a passagem dos dissabores através dos lábios, dos olhos, dos ouvidos e dos sonhos, através dos medos e das descobertas. Inexplicável é ver que as certezas são inquebráveis, ainda que em meio ao mistério, por mais que o tempo passe. Mesmo que as coisas mudem, não se apaga a intuição. Sei que são de ouro as chaves que guardo, sei que são de nuvem os devidos cadeados. Sei que são fechaduras sinceras. Guardo tudo com toda a fé do amanhã, não se sabe por qual razão, mas sei que o vento é frio porque há o agasalho e que, não obstante, logo vem a primavera, como mudam os meses do ano.

Fazer o certo é a senha que nos conecta às virtudes mais elevadas, ao contrário do caminho mais fácil das indelicadezas - o correto nem sempre é o indolor, mas ainda assim não deixa de ser o correto.

Jamais me esqueço do tempo, até que o mistério se ilumine. E depois de tudo, descansar, sem medo.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

black hole sun

A covardia é o pior dos vícios, é a fraqueza, a incapacidade diante da luta, é a incompetência mascarada - equipara-se à vaidade e ao orgulho, como deficiências da alma, como se faltassem voz e tato a um ser completamente saudável. É a preguiça encoberta em patologias mais graves, deixando que se percam tempo e história, ponteiros deslizando e inflacionando o calendário. Deixar para lá, pior do que o deixar para amanhã, só demonstra a fraqueza da alma. É onde se propaga o vácuo, ainda que percuciente, o abismo dentro do tempo que flui, como uma bolha de ar que impede o fluxo. A covardia, agasalhada pelo medo e pela dúvida, contamina e destrói as missões predestinadas ou preestabelecidas no imaginário de cada dia.  Assim anda a vida. Resume-se conclusivamente na decepção substantivada, quase personificada, objeto concreto e conclusivo do procrastinar. Consequências - o plantio e a colheita, a aceitação, o gole consolador e o trago punitivo de batalha encerrada, de corrida interrompida por medo alheio de tropeçar,  e meu nome simplificado, tal como ele era, de quando nasci. A covardia extingue ou oculta as virtudes, diminui o homem, dilacera o ego. A covardia envenena o caráter, desaponta as expectativas. E fim de papo.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

certo por linhas tortas - yes it is

....E  por quê, afinal, reclamamos das linhas tortas do destino à medida que escreve-se correto, se no fim de tudo somos nós seres imperfeitos? Como exigir coerência e clareza se nós mesmos desconhecemos nossos próprios defeitos e virtudes, por tantas vezes, e se tanto erramos? Como exigir do mistério maior, se mal deciframos nosso  próprio reflexo, defronte o espelho? Cabe à nossa história ser curvilínea como nossos corpos, em zigue-zague como nossos rostos, nodulosa como nossas mãos, fervilhante tal qual nossos sentimentos, medos, dúvidas, egoísmos e angústias. É da dor da ostra que nasce a pérola. Assim aprendemos. A linha reta cabe à simetria do colchão, útil para a hora de deitarmos e descansarmos depois da batalha vencida. Cabe à maciez da toalha que enxuga o banho quente merecido. Cabe à face do chão limpo e cheiroso do apartamento, ao final do dia, onde se depositam os pés descalços atrás de conforto e sossego. Cabe à página deitada do livro, ao pé da cabeceira, pronto para ser folheado até que chegue o sono que antecede o novo dia de paz. A linha reta é a das lembranças, e não a das premonições. Reto é o passado, e não o futuro. O presente é feito pipoca estourada, totalmente inesperada, composta de curvas e branca de paz.

O que posso saber, na verdade, é que não faço ideia de quem sou e do que eu seria, quando olho para trás, se por acaso eu tivesse tentado fazer tudo diferente, talvez porque acredito demais na viagem de ida sem volta de cada dia - um de cada vez - para saber que o que foi feito era de fato o certo. Tenho total confiança na intuição das coisas e das causas, há pontuação para tudo e sei que se nos tivessem dado o poder de fazer tudo diferente, certamente apenas adiaríamos o que já estava escrito. E isso serve para tudo nessa vida. E embora julguemos a saudade como sendo o nosso veneno, confesso, sei que no fundo ela é o próprio remédio, do mais contraditório possível.

Por ora só falta tempo, mas e daí, e sobra paz de tanto espaço de silêncio.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

across the mirror


Agradeço a Deus por tudo o que dá certo, pelo caminho difícil que alcançou um final surpreendente. Tudo como desejei se fez quando foi conveniente, porque há tempo pra tudo e a capacidade de evoluir junto às metas é suave e lenta. Assim é a paz, incrível como o destino é mestre, meu coração palpitou e se abriu aos mesmos passarinhos verdes da  mesma janela que não se alimentam de nada, apenas de mim. Feliz, suspirando até o último ar do quarto, me pego nas nuvens, porque não habito campo minado nenhum, porque me sou suficiente sozinha, embora ansiosa pelas novidades, segurando a boca com as mãos para não falar nada. Mas não há nada melhor do que superlotar a prateleira da estante, ignorando a estética da sala, e sinto orgulho de ter sido criada assim. Adentro um ciclo inimaginável de novas possibilidades, escolhi um percurso e assim o seguirei, junto à Filosofia, junto à polissemia, mas com ares de futuro a partir de agora. Eu que sempre advoguei meu destino, agora busco o resto que sobrevive na vida, mimimi, mimimi, vamos lá. Estudar e conhecer são as ferramentas da possibilidade, são a endorfina compatível à minha alma, o remédio das minhas cóleras. O que fica para trás, como disse meu pai, é atraso de vida, e se o passado volta, que venha com amor e que acompanhe tudo o que mudou.  O segredo é o novo barulho, is the new black.

terça-feira, 10 de julho de 2012

SOBRE AS AMIZADES


"O maledicente desejará que você observe, tanto quanto ele, o lado desagradável da vida alheia."

(André Luiz. Livro: Agenda Cristã. Ed. FEB)

Nada mais transparente para resumir as fogueiras que pulei, as pessoas que evitei, as figuras de quem me afastei, nos últimos anos. Eu e meu erro de receber de braços abertos as pessoas, com sorrisos, cumplicidade e sinceridade. Nisso, quase me afundei. Pulei um negativismo de autopromoção que, além de patológico, subtrai tão negativamente os sentidos... Nada além de vaidade do nada. O achar que a inveja lhe rodeia é esquecer que na verdade essa pessoa nada mais foi do que o exemplo do que não ser e de como não agir, esse tempo todo, de maneira tão unânime que me assustou, e eu ainda fui boa demais por ter escondido isso na intenção de proteger e ir contra a maré. E hoje ainda virou exemplo para mais uma - eu. Ontem me perguntaram sobre quem já conheci e quem deixei passar nessa vida, nos últimos anos, e quem eu gostaria de recuperar na minha bagagem. Deu-me arrepios só por lembrar. Lembrei de gente que já se tornou arquétipo nas bocas dos que concordam, exemplos de "vish, Deus me livre!", na forma mais coloquial que me permitirem. Por seguir o caminho da fruta podre, levamos o azedume no paladar de muitas pessoas queridas e só nos damos conta depois. E como não dá para voltar o tempo e fazer tudo diferente, o melhor é correr dele e andar bem para frente. Que a oferenda volte pro mar, todos os dias por obséquio, mesmo que passe o tempo - Passa reto e passa longe!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

"O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou."

sábado, 7 de julho de 2012

chasing pirates


Fujo da teia, mas volto sempre ao mesmo lugar. Não consigo, não consigo evitar. Invade a lembrança, invade a presença, invade até o dia de amanhã, como quem tem posse do passado, do presente e do futuro, ao mesmo tempo – onipotente, onipresente. Afunda em todos os pensamentos de uma maneira irreparável, de modo que, por mais que eu tente, já não consigo parar de pensar. E eu lhes digo o que significa o amor - Fizeram-me crer, durante toda a minha vida, que senti-lo é um sinal de saúde e sanidade, é como estar vivo, mas em mim tudo isso arde como febre, tira-me do juízo normal, joga-me num abismo, enlouqueço. Luto com meu reflexo no espelho, devo me ajudar, mas tenho sido minha pior inimiga. Que eu me cure, que eu me cure, sinto-me fraca e frágil. Saudade é algo grave, ensinarei às próximas gerações. O amor é perigoso. Dá febre. Antibióticos no café da manhã e algo que me faça dormir à noite - podem deixar na minha porta. 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

tempo morto

Passa entre os dedos o punhado de areia quando a mão afrouxa. Voa o passarinho se lhe deixa a gaiola entreaberta. Evapora-se o líquido se o puser vulnerável. Desbota o tecido vibrante quando posto ao sol. Voa pela janela o papel, se não estiver bem protegido. Esquece-se um idioma, se não o pratica. E tudo que, por quaisquer razões, você deixa escapar, se desfaz. Deixar passar tudo sem querer agarrar com as mãos - e quem vai entender. Sou frágil demais para fazer a parte dos outros, representar o papel dos outros, tomar a atitude que caberia ao outro. Sou frágil demais, sou frágil demais. E consciente de que é o certo não fazer pelos outros. Perde-se o tempo, perde-se a oportunidade, jogo-me de volta ao começo como um trem que não chegou à estação, como se meu caminho continuasse sem paradas. Muita bagagem.  É difícil compreender os olhos que gritam e a boca que cala, simultaneamente - e quem vai entender?. Desisto da luta, se não me apresenta a vontade da batalha.  Desisto do filme, se o dialeto é estrangeiro demais para meu leque de linguagem e não há tradução ou legenda. Deixar que tudo seja sempre mudo faz com que as coisas se percam. O silêncio destrói. Lutar com as palavras é pouco para tantos riscos no calendário. É o tempo que já passou que nos parece rápido, e não a velocidade como caminhamos. O orgulho não é uma defesa, é um veneno. A vaidade é o amor próprio utilizado de maneira equivocada. Orgulho e vaidade matam, e arrancam as veias para fora, e doem, fazem arder, e queimam, e de novo, matam. 

Passei por entre os dedos. Me espalhei no resto da praia. Sem querer, pulei da gaiola - como não me colocaram de volta, acabei por voar sem rumo. Evaporei, pouco a pouco. Desbotei, retingi-me. Esqueci de esperar. Esqueci de entender. Fui embora, e não houve quem me impedisse.

E eu esperei, juro que esperei, surda de silêncio. E fui embora.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

rain fall down - I'll sing you a lullaby

Me perguntaram se eu tinha medo. Indagaram sobre minha coragem. Lamentaram minha alma enferma. Me falaram que pulei alto, duvidaram se eu cairia em pé. Admiraram minha atitude. Aliviaram-se perante meu progresso. Me questionaram sobre eu ter paciência. Chegaram a temer. Perguntaram o que eu sentiria depois. Questionaram o meu alívio. Respeitaram a minha dor. Entenderam quando sorri, festejaram a minha evolução. Conformaram-se com os mistérios das coisas absurdamente corretas, provenientes da dor. Respeitaram minha coragem, por fim, e concluíram que sempre a tive, que todos a têm, mas em cada um ela aflora num tempo certo. O antídoto mágico que se se usa apenas quando preciso, nem antes, nem depois. Assim cuidam de nós as pessoas que se preocupam. E vi que nesse universo há alguém tão onipotente e que ama tanto a gente que nos faz nascer com a alma respingada, aqui e ali, para que não nos sintamos sozinhos no mundo, para que não vivamos em casulo. Somos nós e nossas outras almas, somos complementados pelos outros, nossas almas fracionadas, galhos da árvore que somos, ramificações de vida, enquanto cai a chuva - nossos amigos. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Time passes

Cambaleei entre as arestas do autocontrole propriamente delimitado, como quem perde o equilíbrio no meio fio da rua principal. Dei de ombros para as cortinas molhadas da chuva, como quem diz que esbarrar o cotovelo na quina da parede não dói tanto assim. Calei as neuroses de dona de casa quando vi que derrubei cinzas no tapete, há sempre a contradição mesmo. Antes isso à bagunça alheia que invadia a minha organização. É fácil limpar quando se há paciência, do mesmo modo que é fácil perdoar quando se tem fé na renovação. Liberei a endorfina toda de uma vez só, transparecendo o que até então eu preferiria guardar em segredo, porque me tomo muito à mostra quando me analisam demais. Sei que as vontades se fixam no palato, meio que às escondidas, a gente tem é que digerir diariamente para manter a saúde equilibrada. Ao menos essa, já que a cabeça anda sem alguns parafusos. 

É uma mensagem de madrugada que julgo não ser perigosa, é o olho que fixa as retinas e já não sei mais do que estou falando. É passar a chave duas vezes e travar o trinco, deixar que chova, porque as meias no pé têm sua ideal função, e permanecer quieta na minha tranquilidade, porque definitivamente o inferno de mim fazem os outros!

sábado, 30 de junho de 2012

Of a windmill going round

Desliguei as luzes, tranquei a porta, abri as janelas, quebrei a promessa - sentada no tapete da sala, com os pés no couro gelado do sofá, acendi um cigarro. Dei-me o direito de decretar a recaída completa do dia. E recriei a sequência de todas as minhas idéias, que andam com o costume de pesarem mais do que eu. 

Um sorriso sempre vem aos cantos da boca quando lembramos dos sabores doces e das texturas certas. É a prova de que crescemos, envelhecemos, andamos junto ao tempo. É o não estagnar-se. É fluir com a água.  

Às vezes falham as rédeas do percurso, nos pegamos em retrocessos e notas mais agudas, num espaço que costumava sempre nos proteger de tudo, e isso é o golpe da ironia. Bebi os goles de um Cabernet medíocre, e prontamente me joguei pela janela. Desci sete andares com o vento, pude ver as asas desalinhadas saindo pela roupa. Me vi caindo no asfalto do estacionamento. Me vi levantar, sem arranhões na alma. Me vi sair andando, entre os carros, à procura das pétalas da flor que simbolicamente destrinchei, em busca de voltar ao juízo anormal. Acordei já de manhã, na cama, refeita e feliz, porque como em todas as faltas de criatividade, aquilo não passou de um sonho. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

amo, porém existo

Na noite passada deixaram ao pé da minha porta uma caixa grande e pesada, cuja função seria guardar o tesouro mais perigoso de tantas histórias - a nossa. Tantas, quantas, muitas lembranças, os cheiros que infiltraram travesseiros, palavras que curaram, o peso no lençol, o ronco no ouvido - e a despedida. Acabei sonhando com o inevitável. Senti tudo, senti paz. Hoje, acordei coberta de saudades, de resignação, de recuperação, de reconhecimento, de saudade infinita - amo, porém existo.

Posfácio de Dezembro

Ter que suportar o mundo, ter que suportar os meses, ter que suportar os sabores e os trejeitos da memória, ter que suportar a razão, ter que suportar o sentimento. Tudo tão leve, mas que ainda assim aparenta pesar tanto para os outros, quase que obrigatoriamente. Amo e abrigo, guardo, esmago, gozo. Quando se fala de menos e se ouve demais, quando já sou personagem na imaginação do mundo, quando já sou estória nas frases do ócio mascarado das velhas gralhas de sempre. Os tetos de vidro que se quebram e se colam com cola de hipocrisia, e que sadicamente me apontam com o maior dedo da mão sem nem eu ter sofrido do mal.  A projeção dos coitados, a projeção das carências, a projeção dos próprios problemas. Costumo dizer que se assim querem, que assim seja, mas enfaticamente contraponho o argumento lembrando que nem tudo é o que parece, e nem tudo é real pelo simples fato de assim você o imaginar. Virei quase umas dez temporadas de uma novela estrangeira que jamais escrevi, e acho que em retribuição eu apenas diria: prestem atenção na realidade de vocês, porque a minha vocês erraram.


domingo, 24 de junho de 2012


Destino
à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora
que mais
me poderei vencer?

- Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Coming, colors in the air, oh everywhere


Um ponto negro embutido no azul. Um objeto fora dos padrões, fora dos vínculos racionais e dentro do nada, fora das previsões; Como formar um mundo, se o homem é uma ilha?

Vejo mais do que qualquer coisa a sonolenta ânsia de se buscar como indivíduo, como sempre, ainda que em marcas de autoconhecimento ou coisa que o valha, em bordas vazias de misantropia - uma gana de sobrevivência egoísta, uma vaga expressão do que nem é real, uma espécie de autosuficiência primária, a cansativa busca de respostas para perguntas que no todo não encontramos, que quiçá ainda nem inventamos. Talvez a gente sempre finja não encontrar, ou não saibamos procurar, mas é preciso que nos orientem. É o erro dos confusos - reclamar do que não encontrou, mas antes disso não saber o que procura e por isso não reconhecer quando finalmente encontra o pote de ouro.

Somos movidos pela fantasia do inconsciente, do subconsciente, do fácil, do imediato. Sem sabermos, vivemos aquilo que nossa fantasia desenha, fazendo disso a nossa realidade, confundindo o real absoluto. Nós não pensamos, somos pensados. Penso onde não existo e existo onde não penso. O Real é aquilo que é impossível de dizer. Deparando-me com o indefinível, quem sabe eu reconheça a realidade.

Sabemos o que é verdadeiro para os outros mas não reconhecemos o que é real para nós. Buscava fora, mas estava dentro de mim. Aquilo tudo, e mais um resto. O desfazer-se das coisas - tirar o véu dos conceitos e das causas -, desmembrar-se.

terça-feira, 19 de junho de 2012

It's just a kiss away

Distancio-me do peso das decisões involuntárias, das dúvidas, da covardia, do orgulho, da vaidade, do fracasso, e de todo o resto que as pessoas contemplam e que inevitavelmente respingam em mim. É preciso ser coerente e condenar aquilo que me magoa, jamais me esquecendo do que é justo, do que me faz bem, do que me fazia mal. Rezo para que isso jamais se repita, mas caio na fraqueza de achar que as coisas mudaram. Mas há coisa que nunca muda. Coisas e pessoas. É a minha memória que é fraca às vezes, ou não, e tudo fica à beira do reverso, a um beijo de distância. Chego a pensar que é defeito, mas sempre vejo o bem antes de ponderar o mal de tudo. Aí caio nas armadilhas das mesmas coisas. A mais sádica das pontuações é a interrogação. Ela jamais finalizará as idéias. É a dúvida, de longe, o pior dos pecados. O "e se" já causou muitos problemas na humanidade. O silêncio é terapia, mas também pode ser fardo. Um olhar pode transbordar, mas também enfeitiçar. Aquilo que se torna paradoxal acaba por magoar sem que percebamos - o está tudo certo, mas também tudo errado, os perfeitos sinônimos nunca e sempre, a dicotomia do que fizemos e sentimos que nos faz dar voltas na mesma roda viva. A fuga que nos leva de volta ao início. O caminho que arrodeia a mesma vida terrena. Da missão que, de tão redonda e cíclica, inevitável e condenada, não dá para fugirmos. É questionar-se se aquilo de fato me maltrata ou me salva de tudo. O tempo é sempre o melhor amigo da vida, não obstante misterioso, e é nele que me sustento cegamente. É nele que deposito a fé daquilo que Deus quer que eu sobreviva. Aquilo que tem que ser, um dia virá. O que tem que vir, recebo com os braços abertos. O que não me pertence, aprendi que devo deixar sempre no meio do caminho. Os meus presentes, esses sim, carrego comigo. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

echoes


Brindar a paz em todo o seu preenchimento até hoje visto, como quem era abstinente até então. Uma rede na varanda no final da tarde depois de combater uma guerra mundial é a metáfora das sensações, da necessidade do mergulho, da ânsia de metamorfose. O silêncio petrifica, e veja, as pessoas nunca se lembram disso e procrastinam as decisões e as chances como se elas não importassem. E desconfio que elas não importavam tanto assim, já que foram engavetadas na mesinha de cabeceira. A covardia é amarga, o orgulho é uma anomalia, a vaidade é um veneno e personificar-se em desgosto é constrangedor. Nada disso cabe na minha vida, porque meu sorriso percorre a distância entre as duas orelhas. Jogo as cinzas pela janela e penso que é agora ou nunca, e creio que seja essa a hora, e desconfio que sim, então pronto, vou!

"As boas obras começam de nós mesmos. Educaremos, educando-nos. Não faremos a renovação da paisagem de nossa vida, sem renovar-nos. Somos arquitetos de nossa própria estrada e seremos conhecidos pela influência que projetamos naqueles que nos cercam." 


(Emmanuel. Livro: “Relicário de Luz”. Ed. FEB)

segunda-feira, 11 de junho de 2012


But as love is really love
can never fails but fail it does
When you shine like the sun
You see me only one, my only friend
So pretty in white, pretty when you're faithful
I resigned from myself
Took a break for someone else
It's like I come undone
And I've only just become inflatable for you

quarta-feira, 6 de junho de 2012

gracias a la vida


[trecho de Poema dos Dons - Jorge Luís Borges]

Graças quero dar ao divino labirinto dos efeitos e das causas
pela diversidade das criaturas que formam este singular universo,
pela razão, que não cessará de sonhar com um plano do labirinto,
pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
pelo amor que nos deixa ver os outros como os vê a divindade,
por Schopenhauer que decifrou talvez o universo,
pelo último dia de Sócrates,
pelos rios secretos e imemoriais que convergem em mim,
pela linguagem, que pode simular a sabedoria,
pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado,
pelo costume, que nos repete e confirma, como um espelho,
pela manhã, que nos depara a ilusão de um princípio,
pela noite, sua treva e sua astronomia,
pelo valor e a felicidade dos outros,
pelo facto de que o poema é inesgotável e se confunde com a soma das criaturas e jamais chegará ao último verso e varia segundo os homens,
pelos minutos que precedem o sonho,
pelo sonho e a morte, esses dois tesouros ocultos,
pelos íntimos dons que não enumero,
pela música, misteriosa forma do tempo.

domingo, 3 de junho de 2012

Fairest of the Seasons

Respirar próximo à janela é como recolorir as retinas e não só os pulmões, apesar de estar sempre diante da mesma paisagem e do mesmo ambiente. Num dia de chuva e de vento frio tudo é mais puro, mais introspectivo, menos colorido e ainda assim mais prazeroso. Reverencio bem mais a paz, tal como a alegria. O lençol é mais macio, os pensamentos ficam mais lentos, as conclusões mais incisivas, as mãos mais afetuosas, as pessoas são característica desnecessária na moldura e a misantropia bate à porta como um copo de milkshake aos domingos. Nico num volume médio, a maior caneca da prateleira - com café e leite e bem doce, uma cestinha de morangos doces, filmes e meias. Câmera e espelho como gêmeos com visão de ângulos opostos, complementando-se. Suspiros lentos, silêncio nas quinas da parede. E toda a percepção das lentes e dos óculos. Paz e felicidade rimam, ao fotografar-se no reflexo. Somos o semblante do que vivemos, mesmo que mudemos, satisfaço-me com o que carrego.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

cotidiano


Ao invés do barulho do despertador comum, acordar com uma seleção de músicas prediletas. Levantar da cama depois de uma longa espreguiçada, colocar os pés descalços no chão e sentir o gelado do clima do começo da manhã. A franja no rosto, mas tudo bem. Dessa maneira, andar até a cozinha, tomar um copo d'água, colocar o leite para esquentar e fazer a mistura perfeita com café e adoçante, de modo que fique bem docinho. Entrar no quarto do pequeno e ver que ele já me espera com um sorriso lindo, bem grande. Tomar um banho quente e depois banhar o pirralho, vesti-lo com a farda e preparar a vitamina mais gostosa do mundo para que ele beba enquanto assiste ao desenho preferido. Organizar a mochila, revisar as tarefinhas, fazer check-in na agenda da escola. Preparar o lanche, sem esquecer da toalhinha. 

Logo em seguida, a roupa já começa a ser remexida, bem cedo. O cheiro de amaciante começa a perfumar a casa, junto ao perfume que foge da cafeteira, à medida que abro a janela e o vento fresco entra pelo apartamento. Ligo o som, abro o material da faculdade, termino os relatórios, mas confesso que às vezes finjo que não preciso fazê-los e vejo algum filme bom. 

Já é meio do ano e parece que a cada dia os dias são mais curtos, na verdade mais longos, as horas é que passam mais depressa. Como é possível? Já é noite quando me dou conta de que estou morta de cansada, mas doida que chegue amanhã de novo, para recomeçar os pormenores. Um banho quente, um creme doce e meias felpudas finalizam a noite. Filho limpo e cheiroso já deitado e dormindo. Agradeço por mais um dia de saúde e inteligência para ele. Sorrio enquanto me ajeito no travesseiro, agradecendo por tudo durante mais um dia bom. Peço tudo outra vez. O bom dia perfumado, as obrigações que dão dor de cabeça, a companhia do filho, as risadas irritantes da vizinha que quebram a minha concentração, a textura das pantufas, o sabor das gostosuras e o azedinho do suco de limão. E todo o resto, e sempre, e não sei como não percebem as peculiaridades dos dias.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Buarque em Natal - faz de conta que é parte I


Entre todas e tudo, quando tudo aquilo só parecia um sonho, ele cantou uma das minhas prediletas, cuja empatia se deu na primeira vez em que ouvi Chico Buarque, quando era criança. Desde então é a canção que me faz olhar para dentro, conversar com as idéias e perdoar-me, sempre, em letra e melodia. É sempre quando recomponho o pensamento e sincronizo todo o interior. Perdoo-me. Ontem, nessa hora, eu só consegui fechar os olhos e chorar muito, muito, muito. Consegui sentir a textura do meu travesseiro do meu quarto na adolescência, a cor da parede iluminada pelo sol da tarde, após a aula, o vento que o ventilador do teto faria no lençol e nas páginas dos livros que eu deveria estudar e procrastinei para a noite, a espera e a lembrança dos fatos de cada dia, os dilemas que me angustiavam e eu de repente esquecia, a paixão por minha família, o desenho que a fresta da janela fechada faria na cama daqui a pouco, formando um leque. O perfume doce que eu usava, a cor das meias de minha predileção, o cabelo descendo a cama até o chão, as camisetas sempre me cobrindo o corpo miúdo. E mais uma vez me equilibrei. Injetaram-me nostalgia mais uma vez. 

É comum, embora raro, perdoarmos os outros. Mas poucos perdoam a si mesmos, e é essa vertente que carrego em Desalento, desde pequena. Não tem a ver com os outros, mas sim comigo. Eu nunca fui de interpretar algo da maneira aparente mesmo. Sempre levei para o lado B, digamos, aquilo que não é necessário mais ninguém captar. Toda aquela interpretação ao modo "português do ensino médio" nunca me foi suficiente. E por isso esse momento foi tão especial para mim, no show de ontem. Foi a vida dentro do sonho, sendo esse todo o espetáculo, sendo a vida o momento da canção. Aquilo que só eu entenderia. Aquele momento que ninguém tiraria. Poderiam ficar com todas as outras quase duas horas de show, nesse dia, pois só esta me bastava - a música que penetrou minha alma em muitos momentos do meu crescimento, desde criança. Em suma, perdoei-me, mais uma vez, pelas descidas durante a vida, pelos desalentos, e em cada vez que renovo o laço, renovo desde a passagem mais recente até a primeira, sempre em recapitulação, como sendo um prolongamento, uma bagagem completa, e sempre na verdade é, parafraseando o pedaço de Goethe e Fausto que carrego no braço, e relembro tudo mais uma vez, e hoje eu sou uma nova pessoa, de novo. 

terça-feira, 29 de maio de 2012

replace

Melhor do que o hábito de escrever acredito que seja o de reescrever, movida pelo discernimento e pela sinceridade de sentimentos. Quanto mais honesto um pensamento, melhor para tudo e todos. Quando tudo se clareia, as coisas certamente fluem melhor. De sobressalto preferi reconstruir os pensamentos, talvez isso me ajudasse. Tudo está ao nosso favor, é só questão de saber reconhecer. Reler tudo e reformular as idéias, de modo que assim a inevitável interpretação alheia não me perturbe pela minha exigência de privacidade é importantíssimo. - pois assim foi.  Tudo reescrito e repostado. Acho isso até um pouco irônico. Isso tudo de ter que reformular as idéias por causa da hermenêutica equivocada dos outros e coisa e tal, ser interpretada não como eu queria, mas de acordo com o mundo dos outros. Ainda mais aquelas pessoas que chegam por curiosidade, que nem são tão convidadas ou convidativas assim. Mas eu nem me incomodo mesmo. Mas se é assim, foi bem melhor pra mim, de qualquer maneira. Toda a Luz que existe me completou hoje, por alguns acontecimentos e por coincidência, e marco a reconstrução exterior junto à minha interior, aproveitando a inspiração. E depois falo da Luz, ou não. E fim.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Leben Geist

Naquele dia preferi deixar o carro na garagem, movida por alguma intuição que pendia à necessidade de caminhada. Embora eu andasse a passos longos, mesmo que não estivesse apressada, percebia a movimentação quase nula da rua. Encontrei dobrando a esquina da longa rua um senhor, já grisalho e muito distinto, vestido à moda antiga, perdido entre as calçadas, sem saber escolher o sentido certo de sua andada. Deu-me bom dia, respondi da mesma maneira. Parou ao meu lado, deduzi que ele queria falar algo. Assim, também parei. Perguntei-lhe o nome, e ouvi alguma coisa que meus ouvidos não conseguiriam traduzir. Dei de ombros, sorri, e ele me respondeu com um sorriso. Olhou em direção ao meu pulso e viu que ali havia um grande relógio dourado, e então me perguntou se eu não tinha medo de que me roubassem o tempo. Sorri. Mal deu tempo para que eu respondesse e ele perguntou-me as horas, como quem não quer perder a viagem. Eu me lembro - disse ele -, lembro bem de quando ela tinha a sua idade. Pedi-lhe as horas, recebi em troca um sorriso, café todas as manhãs, ternura, três filhos, alguns netos, uma boa casa e grandes lembranças. Hoje, veja só, eu estou longe de todos eles, mas não tem nada. Hoje, também, estou perdido. Amanheci com a liberdade de ir aonde eu quiser, mas também com saudade de algo que jamais voltará, porque já foi vivido. Resolvi começar por aqui. É o começo.

Mesmo que aquilo por si só já tivesse me emocionado, não entendi a razão do desabafo. A arbitrariedade de tudo o que sentimos necessita sempre da percepção que lhe caiba. Ainda assim, permaneci atenta. Enquanto ele tirava o lenço do bolso para enxugar a testa, disse-me que daqui a pouco choveria, e que seria melhor que eu voltasse em casa para fechar as janelas, assim não molharia o tapete da sala. E concluiu: nem todo mundo cultiva o pensar numa sala onde há televisão. Sorri. Eu vi que nele havia algo de empolgação e frescor, como quem sobe as escadas de uma escola nova, no seu primeiro dia de aula. Era como se fosse um novo dia de uma vida nova. Perguntei sobre seus filhos. Não que eu me interessasse pela vida dos outros à primeira vista, mas sim porque achei que pelo fato de ele ter mencionado, achei que haveria relevância para o dia dele se por acaso alguém compartilhasse a lembrança. Confuso, ele resumiu as sílabas. Olhou-me com todo o pesar do mundo contido em meio às suas rugas, como se, melancólico, relembrasse seus quem sabe oitenta e alguns anos, mas não estava triste. Ao mesmo tempo, expressava perfeitamente no rosto todo o peso de sua sabedoria, coisa de quem já viveu tanto que por si só já é grandioso. Foi tudo muito lindo. – continuou - Uma longa vida. Um traço perfeito. Ame seus personagens, minha filha, ame seus personagens. Eles não vieram à toa.

Sorri, transparecendo carinho, e era só o que eu fazia, não sei dizer por quê, e poderia ter respondido a tudo isso, mas não sei por qual razão apenas sorria. E enquanto ele falava e admirava as flores que saltavam do muro de uma casa do bairro, percebi que não se preocupava com as deformidades da calçada. Andava sem olhar para o chão, sem apoio, bengala, ou coisa que o valha.  Era como se uma leveza atípica lhe tomasse, como um enfermo que de um minuto a outro ganha vida em suas pernas e decide atravessar a praia. Senti-me uma tola desdenhando a paisagem do céu.

Lembro que logo depois começou a chuviscar. Ele continuou: Sei que cada dia é um mestre. Sei que nem sempre é fácil o fato de pensarmos. É, o pensamento é uma longa viagem. Da hora que acordamos à hora de ir dormir. É complicado, você sabe, pensar... temos sempre que tomar decisões, decidir por isso, por aquilo, mesmo que a gente não perceba, já está decidindo alguma coisa. É o verbo da vida, decidir, sabe. Você decide o minuto de obedecer ao despertador, decide a quantidade de xampu, decide a cor das meias, decide. Mesmo que seja para decidir entre manteiga e geleia, água e chá. Mas a gente tem que resolver o tempo todo, e isso deveria cansar, não é, mas não cansa, é incrível. E nisso cultivamos vínculos, construímos nosso acervo de memórias e companhias, por toda a vida. Meus amigos e minha família, do mesmo jeito é pra você. É desse jeito. Temos os dias em que tudo é delicado demais, com muito pouco a linha se parte. Há dias mais suaves, e por aí vai. Mas há o grande dia em que a gente simplesmente some, acabou o tempo, acabou a hora. A gente vai embora, e é impossível voltar. Aí a gente lembra de tudo como um filme, e vê um monte de coisinha que antes não tinha percebido, mas que ainda assim vivenciou, e sente saudade e fica feliz por ter finalizado as metas. E você pensa que só porque há saudade significa que algo ficou inacabado? Não, minha jovem, a gente sempre vai na hora certa. TUDO vai na hora certa. Acho que você entende o que é isso. Você aprendeu bem, é, você sabe aprender. Você será muito feliz, porque decidiu as coisas certas. Se algum dia lhe sobrarem dúvidas, lembre-se disso. Sei que cuidam de você. Cuidam muito bem. Mas me diga, você se lembra que dia é hoje?


Não preciso dizer que simplesmente sorri. Acho que naquele dia eu acordara sem muita agilidade para pensar em respostas, apenas para me admirar com o inexplicável. Era como se eu conhecesse aqueles olhos. Era como se eu fosse a moradia daquelas palavras. Mas não sabia por quê. Tudo soava como folhear fotografias antigas. O que era chuvisco se transformou em pingos grandes - começava a chover forte. Olhei para o céu e até onde meus olhos conseguiam enxergar só pude ver cinza. Baixei a vista e já ia esboçar um “ih, e num é que vai chover?”, mas o senhor simplesmente havia desaparecido.

Olhei para o relógio e percebi que ele estava parado no dia 23. Procurei o botão para corrigir a data, mas acho que ele havia caído. No chão, encontrei um papel de confeito, desses antigos, redondos, e me lembro que eu comia na casa dos meus avós quando era pequena, e lembro que era aquele que fazia toda criança se engasgar. Lembro que meu avô adorava. Lembro que comíamos sempre juntos, acho que nem fabricam mais... E, imediatamente, com um nó na garganta - não pelo confeito, mas sim pela memória, lembrei que ontem, dia 23, foi o aniversário de morte do meu avô.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

tempo que cuida


Futuro do pretérito - eu ofereço às coisas que jamais valeriam de novo, por ser especial uma vez só no tempo, para tudo o que não mais preenche, creio, para as cenas que não se encaixam nas alegrias de hora em hora. Tá tudo bem, e é assim mesmo. É muito bom haver opção que realize o Outro - afinal assim é a vida, e que assim seja então. Enquanto isso, tolos se desesperam por não perceberem o que o destino de fato é - quando o passado já passou demais para que volte à paisagem, afinal não sou a pessoa ideal para saber disso. Só dispenso as frases compridas de quem me observa, não me interessava antes, tampouco agora, das melhores coisas que já reconheci no meu leque de boas decisões foi me afastar de quem não me faz bem - por hora acrescento sempre mais do mesmo. Mas sorrio. 

O tempo é bom e o percurso, mesmo que sejamos o motorista da nossa própria vida, é maravilhoso. Basta seguir os direcionamentos corretos. Vontade de guardar tudo em vidrinhos, em pinceladas, em melodias, no vaso de flores, na prateleira da sala,  em todos os cantos aos quais me refiro - para tudo novo outra vez,  porque é tudo aprendizado, embora eu lamente e muito o fracasso dos outros, mas  ainda assim desejando a todos o que quero para mim: o que convém ao sorriso. Contemplo as chances que me visitam por mérito, sim, mérito. Afinal, a vida se resume em fazermos por onde adentrarmos a vida dos outros, sejam eles amigos, familiares, amores, amoras, flores ou cerejas. E só deixo que visitem a minha vida se acaso demonstrarem que têm por onde eu lhes devolver merecimento. Temos que mostrar, demonstrar, retornar - dia após dia - que valemos à pena uns aos outros. Alguém tem que provar que merece bater à sua porta.

No abajour que não se acendeu vejo o reflexo de coisas novas. Vejo sombras, vejo flores. Fogos de artifício, de dentro para fora - músculos que estalam na química da epiderme; Muito vento em volta, gosto de mel, limão, café, morango, e o amargos dos cigarros, e da ausência deles, e a ternura dos goles de vinho ou o suspense das doses quentes do whisky, ou tanto faz, se é tudo novo ou se vem devagar - ou só amanhã, ou só depois, mas é, como se fosse uma outra capa - vermelha, azul, preta, amarela... - para outra tempestade, nova, ainda que  com suas estações que lhe acompanham no novo ciclo.



quarta-feira, 9 de maio de 2012

When I get to the bottom I go back to the top of the slide

Um coração frágil como um brinquedo e forte como um leão, que oscila dentro da capa protetora, que sobrevive em meio à fumaça, que vibra na melodia, que explode a cada corrida, que sossega em meio às palavras. Olhei um ponto vermelho no plano branco da constante paz. É um sentimento brotando ou um pedaço de ternura. A paz nem sempre é branca, mas é sempre bela. É só uma verdade em meio aos fracassados. É a reserva do combustível quando o tráfego não se move. É a via de escape para a vida, quando o preguiçoso dá a sua vez ao futuro. O orgulho é como mofo e ferrugem. É o veneno do Outro. Quando ser a caça se torna enfadonho, diante de um caçador que assim se denomina, mas que jamais mexe os seus pés a um palmo à frente - o ponto vermelho do branco da idéia combina com as cores do papel de parede. E é muito bem recebido com um sorriso que atravessa os lados do rosto.

mil livros e mil mundos
planos que nada combinam com as horas de ontem, mas que acolheriam e sempre acolherão o mundo
o relógio parado
o tempo em inércia
como se nunca tivesse passado
mês após mês,
nove
oito
sete
seis
cinco...

Somos as nossas atitudes e também as que os outros não tomam -
há dia de esquecer, há dia de lembrar.
há dia de se reencantar.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Die Zukunft ist richtig, per Gesetz

De uma hora pra outra apertaram alguma espécie de botão, desses que regulam a gravidade por onde pisamos. Comecei a flutuar dentro da boa notícia recebida, como quem se joga no vento, como um sim em sinfonia, como uma gaiola destrancada, como uma bolha de sabão, longe de estourar, longe de ser efêmera e perto, bem perto de ser o começo da próxima jornada. Os pés no chão eu não esqueço. Mas por ora só flutuo. De um canto a outro, equilibro um sorriso desengonçado, me perco entre a ansiedade e a ânsia, mas já é tudo tão concreto que só sei pular. Estudo nunca é demais. Bora lá.

Feliz!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Because the wind is high it blows my mind

Apaguei a luz do abajur, mas ainda assim o sonho veio. Encontrei-lhe, entre os cheiros, bem mais perto do que esperava. Concluí coisas que antes preferiria evitar. Por causa do vento forte, minhas idéias se misturaram.  Solucei antes de abrir os olhos, vi que entrei bem mais fundo do que pensava. E o céu não deixou de ser azul. Engoli a saudade no amargo do café, disfarcei com pedaços de tangerina e saí para caminhar - mais distante do quarto eu escondo a vontade.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

here comes

A vida oscila como um pêndulo de chumbo, alternamos entre os estados de espírito, desviamos o corpo da força contrária. O Homem quer terra à vista, mas se recusa a gastar forças para nadar até a margem. Termina por afogar-se no nada. O conforto das almofadas impede-nos de movermos as pernas. As palavras são flechas, salvam ou matam. Torno-me o cristal que com muito tempo se lapida, mas dificilmente se quebra. Reluzo cores e formas, giro como um caleidoscópio. No sofrimento da ostra nasce a beleza da pérola, a dor do parto da existência recepciona a verdadeira vida, a cicatriz coça para depois sarar. Para germinar a rosa, há de lembrar que toda beleza é frágil, e que por isso os espinhos são necessários para a sua proteção. Da garganta à boca percorre a voz um longo caminho, recebendo ordens do pensamento. Tal como os músculos, é pela repetição que fortalecemos uma idéia. Pela falta de estímulos, a mesma acaba por atrofiar. Há de girar de acordo com a grande roda. Antes a polissemia das vírgulas ao decisivo ponto. 

LUTO - Tia Nerina

Parte da nossa vivência existe naqueles que fizeram parte da nossa história, concretizando os degraus familiares. Quando um elo se rompe e é chegada uma despedida, existe a certeza de que a partida é o recomeço do Outro. Migramos apenas, um a um, para outro lugar. Como páginas grossas de um livro que jamais termina, formamos nossa existência apoiados nos familiares - crescemos e multiplicamos o mesmo sobrenome. Lembramos com carinho e despedimo-nos de quem já cumpriu o percurso, guardando saudades e salientando o afeto construído. A memória é o consolo do adeus - a vida lapida a morte, a morte lapida a vida. A tristeza e as lágrimas se convertem em preces, logo mais tudo recomeça. A saudade começa hoje.

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” 
[Allan Kardec]

"Morrer não é acabar, é a suprema manhã."
[Victor Hugo]

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quiet is the new loud

Há dias em que nos preenchemos de pequenas coisas para não repararmos no grande buraco negro das grandes faltas. Fazemos da verdade um completo segredo (porque não convém a quem, mesmo?!). Os mesmos atores incorporam novos personagens, no seriado já existente. Como um faz de conta das próprias vidas, como o tempero que excita os paladares triviais. É como se víssemos as mesmas coisas de sempre, mas de ponta cabeça. Outra perspectiva, e não sabemos se enganamos a nós ou às outras pessoas do enredo. Basta fechar os olhos e tudo pode acontecer. Um cafuné, um filme, frapê de café, almofadas, vento frio, pão de queijo, cerejas e vinho, tragos amargos e chás vermelhos, perfumes atravessadores e timbres desconhecidos no primeiro contato. Tato e arrepios. Ligações e mensagens disfarçadas. E só no cafuné já faria toda a diferença. Basta imaginar.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

you only live once


Aceitando de uma vez por todas que tudo é inevitavelmente espiral e cíclico, chego a supor que é mais amedrontador do que parece saber que quanto mais eu fujo de algo mais perto chego ao início. Reinicia-se toda a história, principalmente o prefácio. Isso de fato me assusta, sinto medo. Quanto mais o tempo passa, mais depressa voltamos ao começo de tudo, paradoxalmente - as linhas sempre se cruzam, por mais que as façamos paralelas. Está tudo sempre fugindo ao nosso controle, ao dos outros, ao de todos - não sei se por culpa nossa ou se por ironia mesmo. Tenho medo do futuro, porque ele se assemelha muito com o passado. Antítese das causas e consequências. Canso as pernas, corro rápido, pulo fogueiras e desvio as mesmas paisagens, mas voltamos sempre ao cenário de outros dias. E quanto mais veloz conseguimos ficar, mais antecipamos a linha de chegada. O começo é o fim, e o fim jájá se inicia mais uma vez. Paredes de só uma porta - de saída e de entrada. Uma só janela para ventilar a casa e para jogar-se, se isso for preciso. Quanto mais eu corro, mais dou a volta no globo de nós mesmos, chego ao princípio e afloro todo o constrangimento de reconhecer os nossos mesmos sentimentos, e agora eu só preciso saber o que fazer com isso, além de engavetar tudo da maneira mais segura. Devo desacelerar o passo, se já sei aonde isso vai chegar. E assim fica. Reduzo o percurso e, sem ao menos perceber, involuntariamente aumentamos a velocidade, por nunca termos aprendido a usar o freio.

Embora tudo isso pareça desconfortante, não me preocupo. Junto à doença vem sempre a vacina, sobrevivemos graças à dicotomia de todos os dias. A saudade não sobrevoa nosso nível de autocontrole, vem sem que percebamos. O equívoco maior está em não reconhecer a cena tal como ela é e acabar por interpreta-la e utiliza-la de modo errado. Não sei se apoio o ombro em Heráclito ou  em Parmênides, mas sei que tal como o rio flui, ele jamais permanecerá o mesmo. Somos todos águas  turvas ou calmas de um rio. Fluímos., mesmo que retornando à mesma órbita. Voltar para o mesmo lugar não significa ser basicamente a mesma personagem, ou possuir o mesmo histórico, roteiro ou contexto. Sentir o mesmo sentimento nem sempre faz disso um déjà vú em sua essência. Não dói. Alto lá no cartesianismo, ele não convém sempre. As águas voltam à nascente, mas não na mesma propriedade, já disse... Defrontamo-nos com as mesmas descobertas, mas não como um dia já foram.  Redescobrir é o segredo. Hoje é tudo outra coisa, a roupa que nos veste é a que nos cabe, e não a que já usamos e já desbotou. Há de se renovar sempre, de acordo com as estações.

Antes de causar qualquer assombro, enfatizo as vírgulas. Há sempre a interpretação desvirtuada ou direcionada a um pensamento já concebido, mas não criemos pânico. Não é nada disso. Entre os dedos temos uma arma em potencial - somos capazes de transformar uma coisa em algo melhor. Fazemos disso um grande presente para nós. Afeto e carinho jamais serão desperdício. E soube que foi inventada a amizade e suas vertentes. A saudade é um dom.



A alma humana avança constantemente, mas em linha espiral. 

(JOHANN WOLFGANG VON GOETHE)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quando a hermenêutica passa raspando

Quando a limitação da própria realidade limita também a capacidade interpretativa de uma pessoa, muitos mal-entendidos podem vir à tona. Todo esse desespero defronte a tela me faz pensar que alguém está vindo ao lugar errado, e não sou eu essa pessoa. Conclui-se, portanto...

É um lema constante que repito a quem precisar dele: tudo nessa vida é pura questão de hermenêutica. Posso falar de mil coisas, mas se você quiser, vai entender só uma. A que lhe convém, ou a que lhe dá medo, a que lhe ameaça, a que lhe enaltece. Além da pontuação no devido lugar, e creio que dessa eu faço bom uso de acordo com a minha linha de raciocínio, há também todo o leque de sentimentos subjetivos que influenciam uma mesma frase. Eu direi uma coisa. Você, sem convite, virá e entenderá outra, como lhe convir. E a partir daí a responsabilidade já não é minha. Conclui-se, portanto...

Posso pouco me dar nomes e faces, e assim manter meu afastamento das lentes altas, mas se me expresso aqui ou ali, não me julgue pelas poucas palavras. Conhecemos alguém no confronto pessoal, e não nos parágrafos de realismo ou ficção. Há arbitrariedade na minha exigência de privacidade, eu sei, mas também não pedi sua presença no recinto. Aquilo que é público encara o dilema de estar sujeito ao julgamento dos desconhecedores, e me preocupo se por acaso eu vier a prejudicar alguém que se joga em precipício de raciocínio. Se eu falava de qualquer outra coisa que não era propriamente o seu tópico pseudo substancial, só peço licença. Eu falava de coisas que certamente não dizem respeito a você, e sim às minhas personagens. Conclui-se, portanto...