O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

terça-feira, 4 de abril de 2017

Amor Fatti

amor fatti, sed non satiata


sábado, 4 de março de 2017

Accipe quod tuum, alterique da suum



Aos 31, vi minha mãe oscilando entre uma provação e outra, alimentando a esperança de que ficaria boa de algo, passando de um médico a outro, independentemente da especialidade, colecionando problemas de saúde como quem pega pra si todo o karma do mundo. Ao passo que resolvia um problema, se deparava com outro, como se houvesse uma fila deles, à espera de sua acolhida. E ela é generosa de uma forma que me revolta. Essa fila tem andado – que, honestamente, bem preferiria que fosse a fila do seu transplante de córneas –, e numa organização absurda (ironia), caminha de forma crescente. Isso tem me destruído. Se querem saber, é isso que me fere. É o meu ponto fraco. Sim, a pessoa fraqueja, mesmo depois de tanta coisa. Porque nada que a pessoa faça muda todo esse tempo. Nem se eu pedisse, alguém me colocaria no lugar dela. Isso me dá raiva. 31 anos de impotência, ignorância e falsos conceitos de como ajudar. 31 anos de uma figura materna enfraquecida.

Este ano veio pra testar nossos limites de generosidade, compreensão e zelo. Tem sido um grande esforço diário. É por isso que tanto falo que é e será um ano difícil, porque a gente sequer começou a enxergar o topo da montanha, só consegue lavar a cara, aperfeiçoar o sorriso de Monalisa e aguentar mais um dia jurando que é forte e que tá tudo sob controle.

Por isso eu falo e repito, como quem quisesse assimilar, mentalizar, para não cair de fraqueza: Será um ano difícil. Calma. Respire. Aguente. Dorme. Silencie. Acorde. Vá. Calma. Pense. Ainda tem mais. Dorme. Levanta. Ajuda. Deixa. Respira. Não foge. Aceita. Descanse. Espere. Vá. Ajude. Respire. Silencie. Calma que ainda tem amanhã. Calma, que tá quase lá. Calma, que mal começou. Não é nada. É tudo. Não é tanto. É um mundo nas costas. É uma pena na mão. Não pesa. Faça força. É uma cruz. Calma. Silencie. Carregue. Fale. Silencie. Largue. Recomece.

Tenho me matado por dentro, de tanto engolir o choro. Tento me iludir pensando que não é nada tão sério, que nunca é, que nunca foi, como um mecanismo de defesa. Aceito a bola de neve que denominaram karma, em idiomas e culturas diferentes. Aceito e silencio. Uso como escape as palavras e os meios de expressão. Não sou muito de plateia pra choramingar, nem pra fingir que “quero sumir”, como quem chora por cafunezinho ou chupeta, “ow, tadinha”. Sou a que se cala e espera que chegue amanhã. Amanhã sempre chega, com chuva ou com sol. Sou a que se apoia no lado bom dos dias, que usa como muletas as maravilhas que acontecem na vida. Sou a que acorda dando graças por ter o filho que tenho, tão incrível e que, sem saber, filtra toda a energia da casa, com sua alma colorida. Direciona-me incrivelmente à versão mais aperfeiçoada do meu caráter. Age como mapa e bússola. Eu, frente a isso e a tudo, sou a que tem a obrigação de ser forte, pra colocar pedrinha acima de pedrinha e formar um castelo, sem calejar tanto, pois há quem dependa de mim.

Então vai pra puta que pariu quem acha que é problema fútil (gente casando, fim de namoro ou alguma outra coisa que também não me diga respeito). Vocês que sofrem pela alegria dos outros o fazem porque são medíocres. Pra mim, a alegria dos outros me dá paz. Há tempos eu aguardava por essa paz. Era o essencial que me faltava. E eu sou grata, porque em tanta confusão no mundo, alguma coisa tem que se encaixar, alguém tem que ser feliz, para o todo não desandar.

 Larguem a mediocridade e olhem mais em volta, o mundo não gira em torno do passado, mas atrás do futuro. E o futuro... bem, eu já falei que este será um ano difícil?


Ad commodum suum quisquis callidus est - Cada qual sabe onde o sapato lhe aperta.