O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

domingo, 27 de fevereiro de 2011


Benedito Nunes, embora nos deixando, foi um dos maiores críticos literários do Brasil. Certamente ele cumpriu bem a vida que Deus lhe deu na Terra. Lembro como se fosse hoje o dia em que fomos à sua palestra, na faculdade. O deslumbramento e a realização em um só momento, anotações em um caderninho guardado até hoje. Eu era ainda uma calourinha de Letras...


Mas fica a pergunta: Quem escreverá sobre Clarice, agora?

Permitindo-me parafrasear Moacyr Scliar, outro que nos deixa em arte e literatura: se o escritor não tiver prazer escrevendo, o leitor também não terá. No caso deles, o prazer é imortal.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

literatura

Harold, três anos de idade, dá um livro a seu pai. “Leia uma história”, suplica ele. O pai levanta-o, põe-no ao colo e então lê o livro aberto entre ambos. Ocorrem interrupções ocasionais, quando ambos apreciam as imagens que ilustram o texto - ou então quando Harold traz o livro e diz: “não, agora leio eu uma história”, e, virando as páginas e seguindo o texto com os olhos, improvisa, ao mesmo tempo, uma história que é um composto do que tem ouvido e de sua própria imaginação. O pai se orgulha. É um novo mundo. Harold está aprendendo a ler.

(...)

Certo dia, uma carta foi recebida, lida e discutida por vários membros da família. Quando colocada sobre a mesa, Harold a toma. Curioso, olha toda a carta e dá voltas, pensativo, com ela debaixo do braço. Pouco depois, virando o lado branco da folha, ele diz: “Quero escrever”. Então ele pede um lápis e, sentado em sua cadeirinha, fica muito ocupado durante cinco minutos. A seguir, leva a folha rabiscada até a avó, com o pedido de que ela a leia. Ela vacila? Certamente que não. Ela lê prontamente as frases que ele possa ter composto, em todo o seu universo criativo e limitado, para sua grande alegria e satisfação. É um novo mundo. Ele está aprendendo a escrever.


(In. Yetta M. Goodman, p 11 e 12 – [adaptado por mim]).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

fraca, mas pavio curto

Só digo uma coisa. É FEIO ser mesquinho. Ou você faz o bem, ou simplesmente não faça. Fazer chantagem, jogar na cara e querer ter o controle em cima de algum bem que julgam ter feito a você é horrível. É melhor nem ter tentado ajudar, nem ter concordado com isso. Magoa.

Pior quando a pessoa TEM que fazer as coisas em virtude da "boa ação" que recebeu. Aí vira chantagem. Aí os outros se aproveitam, na maior cara de pau, inventando mil desculpas para que a responsabilidade caia sempre para o lado mais fraco. E eu como sou besta, né...

Só digo MAIS uma coisa: EVITE precisar das pessoas.

Elas podem usar isso contra você.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

no me lo so spiegare


Cheiro, pele, toque - rotina que ancora meus sentidos e sentimentos, eternizando minha felicidade enquanto durar. Em todo o resto, o contrário. Sair da inércia, da estagnação, da mesmice; descartar o descartável, nem todo mundo é tão amigo assim...; nem todo mundo é tão necessário assim. Nem tudo precisa continuar como sempre. Solucionar, dissipar, distanciar-se. Dissolver tudo o que não for tão sólido; mudar os ares, mudar as cores, mudar as águas do rio que permanece sempre no mesmo lugar. Repito e repito, como lema. Aumentada a fé – aquela que é só minha, e de nenhuma instituição -, hey ho, let’s GO.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

learn to fly


Delibo a loucura, sorvo a tempestade da rua, mastigo a impaciência, digiro a calma, e então bebo mais um gole de psicose. Porque sou alucinada, porque sou louca, porque sou tudo de coisa normal. Fecho os olhos e sinto penetrar o fluido da liberdade, do cansaço corriqueiro substituído pelo vigor da individualidade. Difícil de entender? De fora sim. Quem me lê não entende tanto quanto eu me entendo. Quiçá uma amiga querida e cúmplice me entenda, mas não. Mas aqui dentro bate frenético um órgão que jorra sangue renovado por todos os lados, e que entende mais do que ninguém o que tento expressar por meio de sujeitos e predicados. É respirar fundo e subir a escada, não tem segredo. É não esperar a aprovação de ninguém, nem de quem você espera que aprove. É dizer, gritar pela janela: sou assim e pronto! E ver quem lhe acompanha lhe aceitar assim (e que bom que aceitou...). E pentear o cabelo defronte o espelho, usar aquele batom vermelho e dizer: hoje beberei. Hoje dançarei. Hoje exorcizarei as chateações, cuspirei os tragos poluídos do ser-em-si, do ser-para-outro. Nada a ver com Sartre e seu existencialismo, tem a ver comigo mesmo, com o meu umbiguismo. Um querer que o mundo se dane, que as pessoas efusivas e pouco sinceras se estripem. Sempre com uma dose de humildade, para não perder o foco. Vejo o mundo dar voltas... não pela embriaguez, mas sim porque o destino tira e dá, e aos que nos fazem mal tira na exata hora certa: quando mais precisam. Vi quem me fez mal sofrer as próprias dores, e apesar de ter tido a oportunidade de rir disso, me ofereço sempre para ajudar. Aprendendo lições, sempre.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Amicus certus in re incerta cernitur.


Falamos da maturidade, falemos, mais uma vez, falemos do que crescemos, do que atrofiamos.
O que você aprendeu hoje? E nos últimos anos? E na última semana?
O que você vê no espelho?
Qui servit communi servit nulli. - Amigo de todos e de nenhum, tudo é um.

Uma das lições mais importantes, dentro de todos os meus poucos 25 anos, é que realmente ninguém é melhor do que ninguém. Não sou e nunca serei melhor do que você. Ninguém tem o direito de me humilhar. Do mesmo modo, também não posso menosprezar os outros. Lembre-se: apontar os defeitos e as tropeçadas dos outros será sempre uma fuga para seus próprios defeitos, e estes eu sempre terei. Você também. Todos os têm. Ninguém é perfeito, já dizia o lugar comum.

Aprendi que a fé existe para ser adquirida, sentida, vivenciada. Cheguei a não tê-la. Reneguei aquilo que me trouxe até aqui. Quase a perdi, e paguei por isso. Não fui castigada – vejam só como são as coisas em sua magnitude, na ironia da bondade maior -, não fui condenada, mas recebi de presente do Chefe situações difíceis e alarmantes para que minha resistência fosse testada, para que a minha crença nos dias melhores não fosse esquecida, para que a fé me reconquistasse e fosse reconquistada. Não fui vingada, mas sim ensinada a não deixar por aí o melhor que o ser humano pode possuir: justamente a fé. Hoje prendo entre os dedos todos os fios de espiritualidade que me forem proporcionados. Nada acontece por acaso, e digo com muito orgulho que todas as pessoas que conheço nessa vida cruzaram meu caminho para que eu tirasse dali alguma lição. Isso acontece com todos. Meu marido e seu ciclo de amizades são um grande exemplo. Aprendi a gostar de todos, cada um à sua maneira. Compreendi que o mal que alguém pode lhe fazer não deve ser revidado, porque não é na vingança que você aprende, e sim na superação de um obstáculo. E aquele que lhe prejudicou também tirará da situação a grande lição final, é só dar tempo ao tempo. E o mundo dá voltas, ah, como dá! Não se preocupe, nunca. Lembre-se: antes sofrer o mal a fazê-lo. Silencie. Viva. A volta por cima será sempre seu melhor trunfo.

Entendi que ninguém precisa ser como eu para que seja perfeito, correto, perspicaz ou ético. O mundo é feito de cores, cheiros, peles diferentes, e não é por acaso. Como existem pessoas fortes e guerreiras ao meu redor, mesmo que na heterogeneidade das suas qualidades – estas nem sempre puras, nem sempre iguais às nossas -! Serão sempre pessoas melhores do que eu em alguma coisa, lembrem-se sempre disso quando pensarem em analisar a superficialidade de alguma alma. Do mesmo modo, talvez eu até tenha algo que as outras pessoas não têm, mas aí no lugar de debochar, o mais correto a fazer é ensinar, compartilhar.
Amor amore compensatur. - Amor com amor se paga.

Já havia pensado por esse lado?

Hoje, dei-me conta de que admiro os outros muito mais do que critico. Eu simplesmente negava o diferente. E isso eu fazia com uma atenção bem maior do que a de quando procurei evoluir, diariamente. Isso é ser medíocre, evite.

Antequam noveris, a laudando et vituperando abstine. - Antes que conheças, não louves nem ofendas.

Faça um exercício diário. Que tal, todos os dias, aprender com alguém diferente o que quer que seja? Procure tirar uma lição de tudo. Busque admirar todos os dias alguma pessoa próxima a você, ou algo de novo nela. Sempre haverá algo de belo no Outro, e é seu dever reconhecer isso, sempre. Você será sempre o "eu" e as circunstâncias. É o Ser e o meio. Mas não esqueça. É importante que você faça tudo isso com o auxílio da sinceridade, pois não se trata apenas de um acúmulo de pontos, e sim de um exercício de humildade. Agir sem honestidade é hipocrisia. Se esforce. Com o passar dos dias, isso deixará de ser um exercício para se tornar um grande e valioso hábito, inconsciente e gratificante. Você se tornará bem maior do que é!

As pessoas sempre falarão mal de você, não importa a bondade que você impuser. As pessoas serão falsas, hipócritas e medíocres, mas não significa que você precisa ser igual. Continue a fazer o bem, deixe que os outros aprendam com o mal que lhe jogarem. Haverá sempre alguém para puxar o seu tapete, ou para criticar aquilo que você faz ou pensa. Retribua com o oposto. O próprio mundo se encarregará de girar, sem que você use a sua força. E é sério. :)

Aceite a humildade e procure partir sempre do zero, em seus conceitos. Todo dia é um recomeço. É o nascer, o morrer das angústias e dos pré-conceitos. Metaforizando nosso aprendizado, caro amigo, veja, está lá o Sol, sempre nascendo e morrendo diante dos nossos olhos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Blindenessssssss


Em meio a esse lapso energético que dominou o nordeste na noite passada, percebi o quanto somos inúteis e desamparados perante a potência e a dependência diante das NOSSAS criações. É num momento como esse em que lembramos seriamente que o monstro pode sim se voltar contra o criador - o Frankenstein que se manifesta contra o seu feitor. Acabou a energia. E agora? Na falta dela, vejam só, tornamo-nos fracos, burros, despreparados. Voltamos à escuridão de nossas cavernas, procurando saber o que faremos dali pra frente. O nosso mundo interior voltou ao princípio.

Não havia nada. Não havia ventilação, não havia música, não havia elevador, não havia luz, não havia noticiário que esclarecesse o ocorrido, porque também não havia nada que nutrisse o fio da tomada. E nem haveria também como ter notícia por meio da internet, porque o computador não teria como ser ligado. Tentando o celular, cuidado, pois não haveria carregador para alimentá-lo. Meia hora após o apagão, recebo a seguinte mensagem da minha irmã, pelo celular, anunciando o que lera no twitter (acessado também pelo aparelho telefônico, obviamente):

"O Nordeste inteiro sem energia. A barragem da usina de Paulo Afonso arrombou e inundou 5 cidades. Previsão de muitos dias sem energia para Pb, Pe, Rn, Ba e Ceará."

Imediatamente só me veio à cabeça a singela palavra: fudeu. E nada mais.

Na hora da sede, qualquer pingo d’água é bem vindo. Na falta de meios para se obter uma notícia, qualquer boato é reza. Na hora em que lemos aquilo toda a curiosidade foi saciada. Claro que depois eu me irritaria com a má fé das pessoas que inventaram essa estória, mas na hora eu só fiz balbuciar o palavrão e fim.

Fudeu.

Criou-se quase que instantaneamente uma espécie de sentimento de impotência, e ali sabia que, se fosse verdade mesmo o que acontecera, eu não era a única. Vi-me imediatamente imersa e presa dentro de “Ensaio sobre a cegueira”, como também dentro de “Intermitências da Morte”. Uma cegueira de ignorância, visto que quem me domina é a criação - ela, a eletricidade. Sem ela, ironicamente senti como se cegasse. Já me vi economizando mantimentos, já que não poderia mais utilizar aparelhos como o liquidificador. Comecei a economizar a bateria do celular. Logo providenciei o estoque de velas e fósforos. Planejei todo o entretenimento do meu filho, as atividades, a alimentação e a higiene. Sem a energia, poderia vir também a falta d’água. Acho que nessa hora eu já estava praticamente me tornando a personagem central do livro. Ensaiando a própria cegueira.

Imaginei também as pessoas precisando ter seus bebês, ou necessitando morrer. “Seria interessante que você segurasse só mais um pouquinho, quem sabe até terça-feira. Estamos sem energia”, diria o médico. “Acho que hoje não é um bom dia para morrer. Sabe como é, está um breu.” Nascer e morrer precisariam ser reinventados.

Em meio a toda essa preocupação, iniciada por volta da meia-noite com o boato maldoso, acabei por dormir lá pelas duas e meia da manhã, exausta de tanto planejar a sobrevivência. Acordei com o telejornal anunciando uma falha no sistema de proteção. Nenhum alagamento. Nenhuma cidade submersa. Sequer um dia de cegueira. Sequer um rastro de desamparo. Mantimentos a salvo. Foi só aí então que percebi que o ventilador há horas tinha voltado a girar. A ânsia de ser um personagem de Saramago, e só dessa vez - felizmente, ficou para outro dia. Tentarei, quem sabe, a qualquer hora, adentrar “O Conto da Ilha Desconhecida”. Então eu não dependeria de nada, só de mim.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pelo não-observador, o mal reflexo.


Existe algo nesse mundinho mundano que não cabe em uma palavra sequer, para descrever tamanha mediocridade. É o tipo da coisa que merece um leque de palavrões. Já ouviram falar em personagem? E em síndrome do telespectador? Bem, esta última eu inventei, na verdade nem sei se existe tal denominação, mas caberá aqui.

Eu, você, ele, ela – somos pessoas normais, as quais não anseiam por sucesso, nem por fama, nem por aparição televisiva. Apenas existimos. Somos do tipo que estuda, do tipo que casa, do tipo que tem filho, do tipo que tem amigos, do tipo que vive. Não precisamos de telespectadores nem de estereótipos. Não precisamos ser personagens.

Mas é bem aí que entra a mania irritante de as pessoas – que mal nos conhecem – sempre inventarem um personagem para nós, pobres mortais, pessoas - quiçá - nefastas. No meu caso, por ser mulher de músico e por freqüentar sempre seu ambiente de trabalho, já sofri um bocado. Nunca consegui ser somente a Kika, a Mônica, esposa do cara da banda, mãe do Ícaro, aquela que vai prestigiar o seu trabalho sempre que pode, tomando sua cerveja e fumando seus cigarros. As pessoas querem sempre ver o cirquinho alheio pegar fogo, sabe-se lá por quê. Eu costumo pensar que é para ocultar a própria infelicidade, o próprio medo (aquela história de projetar no outro para ocultar o próprio defeito, ou coisa que o valha), e aí dá pena. É deprimente. Tratam logo de estipular características da própria fantasia, apimentam, temperam, como quem não se satisfaz com as novelas ou com os realities, como quem não se conforma com sabor inato do chuchu. Então elaboram adultérios, inimizades, mentiras, ciúmes, conflitos, rótulos. Já fui a muito, a totalmente ciumenta; já fui a adúltera; já fui a mosca morta...; a que se acha; a que não acha nada; já fui a suuper traída. Já fui tudo no mundo, menos eu. Aí é o tipo da coisa que a gente expressa em um sonoro “Caraaaaaalho, doido, vá se tratar!”. E o que raios eu tenho de tão sem sal para quererem sempre acrescentar algo à minha personalidade? Daqui a pouco, caros leitores de uma pessoa só, deixarei de ser alguém para ser múltipla. E você também. Tome cuidado com isso. As pessoas subestimam a própria inteligência, tomam conta de nós antes mesmo de sabermos quem somos. Dou um conselho muito bem vivido, mas só posto em prática a partir de agora: compreenda bem quem você é, e faça sempre o impossível para mostrar por completo o conteúdo. A sua imagem refletida por aí nem sempre será o melhor reflexo. Portanto, seja. Seja, e depressa.

De fósforos e querosene esse mundinho está cheio.