O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

sábado, 23 de julho de 2011

Never clip my wings

Se tenho o direito ao choro, então eu choro. É o direito que me dou ao passar a ser fã de alguém. Choro como quem perde alguém que embalou meus ouvidos e pensamentos nas situações mais adversas. Choro, e com vontade, como se em algum momento eu me sentisse no direito de, como fã, tê-la como alguém que conheço de tão perto. Foi quem embalou minhas mudanças de espírito e deu vida aos meus sentimentos em inúmeras situações. Fez companhia, permitiu que a conhecesse em suas fraquezas.

Deixemos de lado todo esse julgamento em torno de seus deslizes nas drogas,dispensemos todas as pessoas toscas com suas piadinhas de mau gosto. Paremos um pouco para pensar no quão importante ela foi para a NOSSA época, em como pudemos conhecer alguém tão GENIAL à medida que VIVEMOS, e não nos heróis do passado. Ela deixará certamente um riquíssimo tesouro aos futuros, digna de ser lembrada mais por sua obra do que por sua fraqueza, à medida que o tempo passe. Deixemos finalmente uma alma encontrar seu descanso, e insisto que busquemos fazer isso, algo tão mais difícil do que simplesmente julgar, como inevitavelmente fazemos. A solidão possui diversas facetas, eu bem sei. Sofrer é uma das mais difíceis tarefas que devemos cumprir nessa vida. Difícil mais ainda por trazer consigo embutida a incompreensão dos outros.

Ela, excêntrica. Mais uma pessoa de carne e osso que, envolta em suas particularidades, conseguiu transcender o comum e revolucionou nosso conhecimento sobre a boa música. Uma pessoa linda de talento absurdo, em efêmero tempo de existência, nos prova que é maior do que a vida aquilo que deixamos aos outros. Se foram precisos 27 anos apenas para que sua luz chegasse a nós, que eles sejam admirados, então. Never clip my wings. "Nunca amarre as minhas asas", já dizia a sua tatuagem. Deixem-na voar.

O “nunca mais” dói, apunhala e arde no coração de quem a admirava como eu. O “nunca mais” é o limite do desespero, é a angústia, a carência, o ser órfã de sentimentos. É o adeus. O silêncio. O vazio do replay.


segunda-feira, 18 de julho de 2011

discurso de alento

Leva,

Leva minha alma

Leve e pesada

Doendo em alvitres

Trancada nas horas

- passadas

Em que já não se vive.

Leva

Para alguém que não doa...

Para as horas à toa

Que não seja aqui,

Que não volte de lá

Que suporte a lembrança,

Leve.

Traga

Mais um último trago

Do que já não me habita

E que – sin embargo

Ressuscita.

sábado, 16 de julho de 2011

looking for a postman

As vísceras deterioram-se no pior dos sentimentos, o mais uma vez mencionado luto vem à tona. Lembrar a dor é senti-la em dobro, revivê-la incansavelmente dentro do mínimo espaço de ser. Incapaz de mover os lábios, encontro-me extinta de voz e de palavras para explicar a quem quer que seja o que acontece dentro de mim. Incapaz de mover os lábios, perco o último esforço de conseguir esboçar um sorriso. Já consigo enxergar nos outros as diversas interrogações, porque até então era tão raro eu não sorrir.

Há o colo ao dormir. Há um aperto de mão. Um cafuné que nunca tarda a vir. Há o bom dia com beijo de hortelã, há o filho que me envolve em dias de magnitude, há os amigos. Sou rodeada de mundo, mas não sou mais nada além de solitária desde então, simplesmente porque ninguém conseguirá sentir a dor por mim. O desabafo não consola, lamento, a não ser que alguém consiga entregar dentro de um envelope a minha dor para outra pessoa. Quiçá eu a envie pelo correio a algum desconhecido que cometeu grandes pecados nessa vida (toma, você merece mais do que eu). Quiçá eu me lembre de que aquilo que nos é dado é proporcionalmente igual à nossa capacidade e à nossa força, que eu não vivo as coisas por acaso e que, quer saber..., pelos mistérios entre o céu e a terra eu precisaria realmente doer por dentro para entender o lado de fora, amanhã. Não que eu me julgue merecedora de dor. Afinal, quem de nós, seres humanos, seria? Não que eu me julgue vítima diante da dor. Afinal, concordemos, seria horrível...

Por alguma razão, sofrer lapida os diamantes. Por alguma razão, ressuscitei Monalisa e equilibro a tristeza dentro da minha bolha de contentamentos.

O passado nada mais é do que o presente já dobrando a esquina. O futuro? Uma roda viva incapaz de ser regida como desejamos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O vácuo do atemporal


Dor que vem em meio aos beijos, junto à rotina, dentro do café com leite, misturada ao gole de whisky, dentre os tragos que já não dou, nos intervalos dos desenhos animados, entre as páginas das minhas leituras, nos capítulos do meu filme predileto. Dor que ignora a minha vida e a felicidade, dor que decretou seu próprio destino imortal e infinito e não se esquece de bater à minha porta. Dor que não se importa se é noite ou se amanheceu, se é cedo ou tarde. Dor do inevitável, dor da consequência, dor do sem perdão.

[Grito e choro, escondida, a dor não ouve. A dor não vê. Ela apenas existe.]

Maior do que o luto do imediato – aquele que é natural, que se inicia acompanhando a perda e que tão rapidamente cicatriza – é o luto da lembrança. O luto de lembrar dói sem a promessa de passar, oscila, lateja. Lembrar em luto é viver a morte e com ela morrer, segundo após segundo, sem promessa de alento. É cair em abismo, precipitar-se, morrer em precipício. É ferida aberta, é lamento, é frio sem cobertor, sede sem água. Fecho os olhos a espantar o filme que vai e vem nos meus olhos, mas as lágrimas que deveriam lavar só me queimam. Sinto dor. Mal dá para me contorcer em quimeras, o destino é um e a cruz só pesa.
Saudades do que não foi palavra. Lamento em quem não foi sussurro.
O luto da lembrança – eis uma dor que não desejo a ninguém.

sábado, 9 de julho de 2011

O uno e o múltiplo de sermos


Dieses Baums Blatt, der von Osten
Meinem Garten anvertraut,
Gibt geheimen Sinn zu kosten,
Wie's den Wissenden erbaut.

Ist es ein lebendig Wesen,
Das sich in sich selbst getrennt?
Sind es zwei, die sich erlesen,
Daß man sie als eines kennt?

Solche Fragen zu erwidern
Fand ich wohl den rechten Sinn;
Fühlst du nicht an meinen Liedern,
Daß ich eins und doppelt bin?
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"A folha desta árvore que de Leste
Ao meu jardim se veio afeiçoar,
Dá-nos o gosto de um sentido oculto
Capaz de um sábio identificar

Será um ser vivo apenas
Em si mesmo em dois partido?
Serão dois que se elegeram
E nós julgamos num unidos?

Pra responder às perguntas
Tenho o sentido real:
Não vês por meus cantos como
Sou uno e duplo, afinal?"

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(Goethe teria mandado a Frau Willemer uma folha de Ginkgo
Biloba como símbolo de amizade. A respeito da planta do Oriente,
não se sabe se ela é uma que se divide em duas, ou duas que
se unem numa.)

Somos o uno e o duplo, afinal, no nosso existir e no estar com
alguém. E desconfio de quem me disser que em Goethe não há
Filosofia.

(emocionada)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

principles of lust

"Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um so mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio."

[Pablo Neruda]

sexta-feira, 1 de julho de 2011

falschen Zeit


Era uma vez um rei. Era uma vez uma menina. Eles se encontraram na história de uma viagem. Era uma vez - e sempre haverá por aí - um amor proibido, aquele vivido em seu castelo tão bonito. E proibido seria não voltar.

Conheci tudo novo no meu velho mundo. E o velho me renova, sempre. Paradoxo dos contos de fadas. Eram dois olhos brilhando o amor de outrem, celebrando o meu. Era o brilho do amor meu, era a cumplicidade dos outros. E, em milhões de passos, percorri cidade em cidade em cidade em cidade. Meu berço. O rei me acompanhou, e talvez eu o tenha reconhecido. Talvez eu o conheça desde sempre. No fim, ele não passa daquele que vive dentro de nós - o pensamento. Era a história. Labirintos de árvores em vento gelado, flores, nuvens. Concreto em forma de casinhas de boneca.

Haverá um propósito para tudo nesse mundo, e minha alma não pousou lá por acaso, há 25 anos. Senti arrepios. As paredes me contaram histórias. Os tons de marrom ignoraram a minha idade. Quantos anos eu tive? Era tudo outrora. A cor das florestas e das flores pintavam meus planos. Senti-me nascendo, senti-me revivendo, senti-me, até diria, des-reencarnando, retrocedendo séculos e experimentando tons de vozes e cores, histórias, lendas, trilhas. A minha história. Os sabores. Os cheiros. Fiquei diante da coroa de pedras e de ouro. Eu vi as espadas com esmeraldas e rubis. Senti o peso das armaduras. Quis montar os imponentes cavalos árabes, mas eram só estátuas. Digeri - a música. As louças. Os cristais. As letras. O som das catedrais. Não me tirem dali, por favor.

Quis trazer tudo comigo, na bagagem de rodinhas (na de histórias, acredite, veio tudo. Deixei o país vazio). Quase trouxe o lustre de pedras preciosas para casa. Senti as árvores e roubei suas folhas. Couberam perfeitamente nos vácuos das minhas páginas da réplica do caderno de Goethe. Leio e releio suas citações e, embebida em Apfelwein, adormeço nesse sonho que mais uma vez acontecerá. É só acordar.