O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Quiet is the new loud

Ninguém está imune à pele da hipocrisia, nenhum se salva de provar desse amargo, ora veneno, ora remédio. O amargo que trava a garganta, que entorpece, que desnorteia, que derruba pelas beiradas. Regurgitamos o incompleto do entre-ser. Somos herança de nós mesmos, alimentados pelas próprias vivências, fadados à autofagia da alma, no fim do percurso. Muitos se esquecem disso, da consequência do sim e do não na porta de saída, vomitando o achar e o não-ligar como verbos pioneiriços. É tudo corrida vertiginosa, fonemas cuspidos antes de serem vocábulos, dizeres lançados antes mesmo de serem medidos. Tudo opinião e palavras jogadas ao vento. Sorrisos de pastilhas de hortelã. Somos escravos do momento, das emoções, da utópica razão pura tantas vezes subvertida em surtos de impulsividade, fardo inerente ao homem, esse do eterno "de repente, deu-se", um jogar-se no precipício, o precipitar-se e agir conforme a música, delineando a dança. Na digestão de tudo, a certeza de que na próxima vez não se repetirá o gesto ou o substantivo, estancará em si mesmo o vício do caminho mais fácil, o vício de manterem-se os vícios, acomodados no adiamento das nossas perfeições. Aprende-se. Finge-se. Sobrevive-se. Abastecemos a munição da máscara inquebrável. E lapidamos com a matéria-prima da cíclica hipocrisia. É a culpa e a solução, eterno vínculo dos que ainda evoluem, dos que não estão prontos. E, para que haja equilíbrio, purificamos a face com a felicidade honesta de estampas florais. Sete meses que soaram como anos, é o que todo mundo me diz, e deparei-me no espelho com o ser tão mais feliz no momento em que quebrara a janela para pular do sétimo andar. Confesso que no primeiro segundo esperei o contrário, tal como todo mundo espera, tal como muitos esperaram. Mas ficamos todos nós a ver navios. Acertar nas escolhas e nos erros dos outros não tem preço. E eu encerro a noite com o sopro à vela de cheiros em cima da mesa, trago o Camel que não convém e expulso para longe a rolha do Cabernet, bem gelado, porque é tempo de fogos de artifício e de flores na janela, do lado de dentro da porta e em todos os cantos de fora. Brindando à âncora erguida e ao vasto mar à frente, tenho todos os dias programados de coisa alguma. Surpreendo-me a cada minuto. Cigana de sempre e de tudo, prost! Und gehen wir. O silêncio é o mais novo barulho, intertextualizado, intermusicalizadointerpelado. Estrelas nos olhos, asas nas costas, vento no rosto, sol nos cabelos, sapatinhos vermelhos e o Blues. A reação é conforme a ação.