O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

terça-feira, 4 de abril de 2017

Amor Fatti

amor fatti, sed non satiata


sábado, 4 de março de 2017

Accipe quod tuum, alterique da suum



Aos 31, vi minha mãe oscilando entre uma provação e outra, alimentando a esperança de que ficaria boa de algo, passando de um médico a outro, independentemente da especialidade, colecionando problemas de saúde como quem pega pra si todo o karma do mundo. Ao passo que resolvia um problema, se deparava com outro, como se houvesse uma fila deles, à espera de sua acolhida. E ela é generosa de uma forma que me revolta. Essa fila tem andado – que, honestamente, bem preferiria que fosse a fila do seu transplante de córneas –, e numa organização absurda (ironia), caminha de forma crescente. Isso tem me destruído. Se querem saber, é isso que me fere. É o meu ponto fraco. Sim, a pessoa fraqueja, mesmo depois de tanta coisa. Porque nada que a pessoa faça muda todo esse tempo. Nem se eu pedisse, alguém me colocaria no lugar dela. Isso me dá raiva. 31 anos de impotência, ignorância e falsos conceitos de como ajudar. 31 anos de uma figura materna enfraquecida.

Este ano veio pra testar nossos limites de generosidade, compreensão e zelo. Tem sido um grande esforço diário. É por isso que tanto falo que é e será um ano difícil, porque a gente sequer começou a enxergar o topo da montanha, só consegue lavar a cara, aperfeiçoar o sorriso de Monalisa e aguentar mais um dia jurando que é forte e que tá tudo sob controle.

Por isso eu falo e repito, como quem quisesse assimilar, mentalizar, para não cair de fraqueza: Será um ano difícil. Calma. Respire. Aguente. Dorme. Silencie. Acorde. Vá. Calma. Pense. Ainda tem mais. Dorme. Levanta. Ajuda. Deixa. Respira. Não foge. Aceita. Descanse. Espere. Vá. Ajude. Respire. Silencie. Calma que ainda tem amanhã. Calma, que tá quase lá. Calma, que mal começou. Não é nada. É tudo. Não é tanto. É um mundo nas costas. É uma pena na mão. Não pesa. Faça força. É uma cruz. Calma. Silencie. Carregue. Fale. Silencie. Largue. Recomece.

Tenho me matado por dentro, de tanto engolir o choro. Tento me iludir pensando que não é nada tão sério, que nunca é, que nunca foi, como um mecanismo de defesa. Aceito a bola de neve que denominaram karma, em idiomas e culturas diferentes. Aceito e silencio. Uso como escape as palavras e os meios de expressão. Não sou muito de plateia pra choramingar, nem pra fingir que “quero sumir”, como quem chora por cafunezinho ou chupeta, “ow, tadinha”. Sou a que se cala e espera que chegue amanhã. Amanhã sempre chega, com chuva ou com sol. Sou a que se apoia no lado bom dos dias, que usa como muletas as maravilhas que acontecem na vida. Sou a que acorda dando graças por ter o filho que tenho, tão incrível e que, sem saber, filtra toda a energia da casa, com sua alma colorida. Direciona-me incrivelmente à versão mais aperfeiçoada do meu caráter. Age como mapa e bússola. Eu, frente a isso e a tudo, sou a que tem a obrigação de ser forte, pra colocar pedrinha acima de pedrinha e formar um castelo, sem calejar tanto, pois há quem dependa de mim.

Então vai pra puta que pariu quem acha que é problema fútil (gente casando, fim de namoro ou alguma outra coisa que também não me diga respeito). Vocês que sofrem pela alegria dos outros o fazem porque são medíocres. Pra mim, a alegria dos outros me dá paz. Há tempos eu aguardava por essa paz. Era o essencial que me faltava. E eu sou grata, porque em tanta confusão no mundo, alguma coisa tem que se encaixar, alguém tem que ser feliz, para o todo não desandar.

 Larguem a mediocridade e olhem mais em volta, o mundo não gira em torno do passado, mas atrás do futuro. E o futuro... bem, eu já falei que este será um ano difícil?


Ad commodum suum quisquis callidus est - Cada qual sabe onde o sapato lhe aperta.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

gracias a la vida - sobre as borboletas no estômago


Se ainda não lhes contaram, a paz traz como efeito colateral o paradoxo. Em marasmo me ponho deitada, imaginando que está tudo certo, finalmente no devido lugar. Dos fardos eu me livrei, em meio a páginas eu me acolhi e dentro dos devidos corações hoje eu moro. E felizmente o amor também habita em mim. Mas o paradoxo não se anula por haver paz, pelo contrário.

Deitada próxima à janela, balanço os pés lá no alto, como quem deseja "chacoalhar" o silêncio. O paradoxo de um silêncio de paz.

Queria desligar a cabeça. Ou ligar qualquer som interno em volume máximo. Acelerar o relógio. Voltar no tempo. Adivinhar o futuro. Viajar por qualquer coisa de calendários antigos, (re)conhecer o passado (de séculos atrás, e não o meu). De tão calmo o mar, chego a querer - mesmo que inconscientemente -  que chegue a tempestade. Quero a náusea, o estômago embrulhado, a força dos braços para manter tudo em pé. Quero a chuva, para pensar que o bom tempo sempre vem (como se em ares de utopia). Quero o calo, a cicatriz, como quem se vicia em resiliências. Quero a ferida que arde em contato com a água salgada -  quero saber qual é a sensação. Eu não lembro.

Penso em tudo isso como quem não sente peso nas costas, como os outros sentem. As pessoas sofrem, não superam, guardam rancor, alimentam o desejo de desgraça alheia, se amarguram, se vitimizam. Seria eu dormente? Qual seria essa minha anestesia, ao longo dos anos? Quando comecei a ser assim? Será que eu fiz muita gente sofrer, por causa disso? Por não penar, por não doer?

E é quando você percebe a ironia: eu devo ter dormido durante o longo período de tempestade e não percebi, porque agora estou no bom tempo e não me lembro de como cheguei até a Ilha. Logo eu, que sempre adorei o mar.

Balanço de novo os pés, mas lá vem uma câimbra. Hora de levantar.

domingo, 16 de outubro de 2016

gigante de pedra


Onde era vulcão agora é ilha. Fértil, de peixes, sereias e tubarões. De segredos novinhos em folha, de sal grosso e areia fina. De sol corando a ponta do nariz, de cheiro de maresia. Ilha que não se isola, ilha que virou portal. Lugar de água e espuma, de ventos que levam e trazem, e lá vai. Segue o barco no horizonte. Olha lá. Lugar iluminado, correnteza, corrente. Eu me ilumino. E enfim, quando mergulho finalmente, fujo. Lá no fundo - ou lá no alto, pra quem vive de opostos - abro o olho, tudo azul. E eu me encontro: já me transporto.
Mudei de nome - agora sou ilha.

across the universe



Quando você está pouco se lixando pra o mundo de fora, tendo um universo dentro de si. Quando você comemora finalmente a passagem de ciclos, o encerramento de karmas, a transitoriedade dos destinos que ficaram no passado. Agora finalmente sou Luz, não tenho mais correntes segurando os pés. Não há mais um carrasco sob meus ombros. Não há mais energia errada para me pesar. Hoje, sigo minha estrada quase que voando, de tão leve, e sorrindo, de tão plena.

Eu sou. O resto fica pra trás, que desvie. Há muitas estradas e caminhos para terem que roubar meu mapinha. Eu sigo. E eu passarinho... afinal.

domingo, 14 de agosto de 2016

Wie geht's dir?



Muitas taças e noites e silêncios de vinho.
Aquela mania de quando todas as desculpas do mundo são bem aceitas lá fora, e então passo a chave na porta de casa e me torno bolha.

Previsível.
Muita vida. e mil viveres. Normal.
Um computador à minha frente.
Muito sentir. Sou eu. Aquela que digere tudo, o tempo todo.
Tempos de quem foi feliz bem leve...
Tempos.
E ninguém viu.

Por não saber expressar, guardei pra mim.
Resultado?
Muitos arquivos de texto na pastinha do meu pen drive.
Só balela. Mas se não escreve, a gente engasga e morre.

Contos que não são contos, histórias, cuspires, pensar alto.
Mentira. Só idiotice mesmo, aquele falatório metido a nada de quem parece até que poderia fazer algo melhor da vida.



quinta-feira, 23 de julho de 2015


Coisas que dão leveza ao fardo do dia:

O cheiro do meu filho quando beijo o seu rosto, e a maciez dos fios do seu cabelo por entre os meus dedos, enquanto conversamos; a sua voz, me perguntando sobre tudo, enquanto me concentro nas dobras das roupas lavadas e não passadas; quando ele me chama de "mamãe", não importa a hora, mas sempre com carinho; o ruído de quando ele morde a cenoura crua, antes do almoço; suas palavras quando reza antes de dormir.

O meu travesseiro, que de tão fofo afunda quando deito; o estalo das minhas costas quando deito à noite; dormir no escuro; o gosto do café com leite, doce e quentinho, pra inaugurar o dia; a camada crocante do queijo assado no meio da manhã; o suco de melancia pausado na boca; o cheiro de purê de jerimum na hora do almoço; o seu sabor.

O chão lisinho de quando está super limpo; o cheiro do amaciante perfumando a sala, em dia de lavar a roupa; o sofá cheiroso em dia de filme; o edredom macio e a primeira taça do vinho-das-sextas-feiras.

Adentrar a madrugada presa em um livro, sem conseguir dormir; sonhar e acordar no meio da noite; tentar adivinhar que horas são; pisar o chão com meias fofinhas e deslizar os pés doloridos dos dias longos; banho quente e todos os cremes cheirosos debaixo do pijama; cremes no rosto; gosto de pasta de dente na boca.

A janela aberta quando venta forte. A luz apagada quando estou sozinha. Música enquanto cozinho. 
Sons de desenho-animado-de-menino enquanto lavo a louça. O barulho da chuva. O desenho que os pingos da chuva fazem na janela da sala. O assobio do vento na janela do apartamento.

Meus álbuns favoritos.
Meu perfume favorito.
Buzinar bem alto em dias de trânsito louco.
O passe das segundas e quartas-feiras. Às vezes das terças e quintas.
Frapê de cappuccino no cinema.
Pipoca com muito alho.
Pão de queijo.
O peixe fresco dos dias de sushi com meu filho.
Bastante wasabi.

Meu filho manuseando o hashi. O modo como ele anota a página do livro para continuar na noite seguinte. Suas bochechas rosadas de tanto comer bem. Sua risada. Seu abraço. O fato dele existir.
Meu filho e minha bolha.

domingo, 19 de julho de 2015

de vinho tinto de sangue


É tão sufocante que eu não sei nem por onde começar.

Em tempos de vertigem e embrulho no estômago, quando tudo parecia sem jeito, sem conversa, sem acordo, sem rumo, sem acerto, se um vento de leve balançasse as folhas da árvore certamente já seria um bom motivo para sorrir. Em meio à brisa que chegava, tudo que não fosse adeus parecia completamente bem vindo.

Numa bela noite de tantas eu peguei no sono e passei a sonhar. Na verdade, eu achei que seria um sonho, mas não foi. Foi num daqueles dias normais: depois de um longo dia de rotina, abri a porta do apartamento e tirei a sapatilha – a número 112, dentre as 300 da coleção compulsiva; a preta, que se parece com a verde, a bege, a marrom, a vermelha e a de oncinha..., a não ser pelo lacinho de strass na ponta –, adentrando com pés descalços o espaço de chão geladinho.

Banho quente, pés molhados no tapete felpudo, toalha fofinha e com cheirinho de amaciante. Vapor no espelho, tudo certo. Creme no cabelo. Cabelo ensopado. Olhos fechados e som ligado. Praxe. Fui ao quarto em busca do roupão gigante (aquele branco que mais parece um abraço de mãe urso) para assim mesmo me deitar na cama. Achei que aquilo definia felicidade. Achei que ela duraria para sempre. E então dormi.

Adentrei um abismo de angústia. Não foi como Alice (longe de ser, infelizmente), que se precipita em um buraco em busca do coelho atrasadiço, experimentando a melhor viagem de sua vida, acumulando lições e filosofias. Foi como se me acorrentassem a um pesadelo, e posso jurar que de fato havia correntes, pois ouço o barulho delas até agora.

Depois desse dia talvez eu não tenha permanecido a mesma. Foi como se de uma hora pra outra eu tivesse sido jogada num limbo, num inferno-de-alguém, na vida de qualquer outra pessoa que não a minha. Fechei os olhos (ou abri?) e havia um homem. Um homem chegando à minha vida. Seus olhos mal piscavam, lembro bem. Pele morena, olhar gélido e redondo. Falava sempre em mil arrodeios. Em tudo. Da cerveja às relações passadas. Seduzia. Manipulava. Contava de quando foi caluniado (porque diziam que ele batia na outra), tadinho. Contava em voz aveludada as suas encenações, digo, atividades no Centro. Caí envenenada pela força do seu discurso. No início nada parecia ter problema, mas este é o lado ruim de não conhecer a fundo alguém. A pessoa acredita, sabe. Acredita porque não enxerga. Uma casa com cortinas fica muito mais bonita. Ninguém vê a bagunça de dentro ou de fora. E havia inúmeras cortinas nesse início de sonho. 

O vilão era muito bonito, sempre achei. Lindo aos meus olhos. Feito sob medida, em tudo. Sua pele dava choque, e acho que química é bem isso mesmo. Tantas vezes entrei em transe ao encostar o meu corpo no dele, o meu rosto no dele. Apenas encostar. Lembro do quão viciada eu fiquei no arranhado da sua barba, no seu ombro para dormir, no seu toque, no seu beijo. O cheiro era como feitiço. Coisa de ciganos de outra vida. Foram poucos e longos dias entorpecentes, dentro de um longo ano escuro. Mas o vilão não era só isso. Aliás, “isso” dava conta somente de 10% de quem o vilão era.

Perverso. Julgava as pessoas. Fazia-se de santo (porque há quem pense que médium é sinônimo disto). Tinha cacoetes de estalar o ouvido e coçar o nariz, assim como todo vilão de histórias que possui um trejeito peculiar e único para distingui-lo dos demais personagens. Tinha a voz arranhada quando se aborrecia. Perdi as contas das vezes que gritou comigo.

Esse homem talvez não admita, até hoje, mas tratava-se de um vilão esquizofrênico. Sim, no sentido mais literal de ser, patologicamente falando. E tenho pena dele por isso. Não é fácil ser diferente num mundo de loucos-normais. Infelizmente, não é todo mundo que se permite ser tratado. O vilão é um desses. E a negação é o pior vício do doente.

Essa doença traz consigo correntes profundas. Não só a ele, mas a quem ele julga amar.

Por muitas vezes, acorrentada, lembro de ouvir os seus gritos. Ganhei muitos deles, antes mesmo de ganhar flores. Eram centenas de buquês de palavrões. Buquês sem necessidade de datas especiais. Mãos que machucavam. Mãos pesadas, mãos fortes, mãos cegas, e meus braços doíam. Meu rosto latejava.

O vilão não tinha vida. Não havia resquício cognitivo coerente à sua idade. Idade mental de um adolescente, pensamentos fúteis de um adolescente, malcriações de uma criança. Um garoto crescido e sem perspectiva. Não havia formação, ocupação, futuro. Procrastinava o quanto fosse. Havia, por outro lado, a inércia de fingir ser boa pessoa e a obsessão em vampirizar alma alheia. E eu era seguida, perseguida, investigada, eu, eles, todos, minha vida e a de quem quer que mencione o meu nome.

Eu não podia dormir sozinha nos finais de semana (e às vezes até mesmo durante a semana). Se eu tentasse, ele invadiria o meu apartamento às 11 da noite. Por outro lado, se eu conseguisse, ele chegaria às 7 da manhã, esmurrando a minha porta até que eu abrisse. Você sabe, só para checar se eu não dormi com alguém.

Esquizofrenia é um fardo pesado, talvez de corajosos espíritos que pedem para reencarnar da pior maneira possível, a fim de restaurarem dívidas passadas. O que lamento é que, sinceramente, estamos diante de uma vida desperdiçada (quem sabe o vilão obtenha êxito na próxima...).

Ainda não entendo como é possível que uma pessoa que se esforça tanto para aparentar ser um anjo inofensivo insiste e jura que é traído por todos (como pode uma pessoa tão boa ser tão injustiçada/ofendida? Incoerente, né?): o amigo traiu a confiança dele, certeza, aposto que tentou furar o meu olho; a namorada do amigo tá traindo, eu tenho certeza, tá na cara; aquela menina ali age como se traísse, olha aquela outra ali sensualizando, aquela ali não é flor que se cheire, viu o decote dela?; olhe ali, a calcinha dela aparecendo, olhe você mordendo os lábios indecentemente! Pare de ter olhos sensuais. Sua puta.

O vilão ouvia vozes que nenhum médium conseguiu encontrar, até hoje. Alguns deles imploraram para que eu levasse o vilão (e as vozes) ao psicólogo. Bem tentei. E tais vozes falavam coisas que até hoje me dão asco, tamanha a incoerência dos delírios (afinal, se eu era vigiada 24h por dia, obrigada a passar horas trancada em seu quarto, ou em seu carro, ou em “seu” Centro...). As queridas vozes eram implacáveis com o vilão. Ele contraía o rosto e coçava o ouvido, fazendo cara de dor. Diziam que eu havia marcado um almoço secreto com algum amante, por exemplo, e que tinham certeza que eu havia me encontrado secretamente com alguém. Faz sentido, afinal eu não tenho um filho para cuidar todo dia, com minutos contados, não tenho que fazer almoço, não tenho que passar farda, preparar lanche, deixar a criança na escola, pontualmente... loucura, não?

E então, punida por tais denúncias das vozes-do-vilão, eu passava horas trancada em seu carro, por tardes inteiras, enquanto ele dirigia sem rumo, falando ofensas a mim. Talvez numa tentativa de se certificar que eu não estaria com mais ninguém.

Tentei fugir muitas vezes. Chorei muitas vezes. Quis mudar de endereço. Quis sumir de verdade.

Para ser mais exata, tentei fugir em todos os finais de domingo de todo o ano de 2013 (sim, esse pesadelo já completa 2 anos). Finais de domingo, porque sim: ele pedia ouvidos na sexta, em tom de reconciliação, brigava e fazia questionários absurdos até o sábado e no domingo eu desistia. Doentio, confesso. Só que mais doentio do que isso é não ter lugar pra se esconder, se até os meus porteiros diversas vezes ele interrogou/subornou (e eu não tenho certeza quanto ao pretérito).

Quis pedir socorro. Mas não tive coragem de contar a alguém. Tenho medo constante.

Sei que o vilão tinha complexos e não sabia lidar com rejeição, qualquer que seja. Como uma espécie de autodefesa, ele subjugava principalmente as mulheres, numa viciosa espiral de misoginia. Putas, infiéis, vulgares, burras, e tudo aquilo que jorra de um rosto quando cai a máscara. A cada rejeição minha, ele me atribuía um novo amante. “Só pode estar com outra pessoa, para não me querer!” – e atribuía nomes, aleatoriamente, de acordo com critérios próprios, ainda que arbitrários –; piamente idealizou cenas e conversas, e as tomou como verdade. E me narrava esses acontecimentos, ofendido, jurando que eu morreria. Descobri que fiquei com muitas pessoas, vejam só (coitado, mal sabe ele que quase não saí de casa nesses últimos anos, cercada por seus olhos doentios).

Dizem que doentes assim têm uma inclinação para a bebida. Fato. Ele era capaz de beber 48h sem tropeçar, numa força sobrenatural de 300 homens sugando o seu álcool. Ele os chamava de obsessores. Era quando eu mais sofria. Sua força aumentava, junto a essa resistência. Nesses dias de longos porres, naturalmente, quando eu conseguia me esconder de seus olhos, meu celular era bombardeado com 500 mensagens entupidas de palavrões. Jamais conheci tamanho inferno, tamanha tortura psicológica.

Um dia o vilão não aceitou mais um ponto final nesse relacionamento vampiresco. Ih. Quase que o mundo acaba. Parando para pensar, se eu contei direito, foram mais de 30 rompimentos, fácil. Acumulando os dias de paz, talvez tenhamos ficado juntos um mês, quem sabe. Em cada vez que eu tentava fugir, mais compridas ficavam as correntes, e o vilão sempre me alcançava. Passei a ter medo. Fiquei encurralada. Ilhada. Cercada. Tive meus amigos seduzidos, manipulados, questionados discretamente, e isso se dá até hoje, quando vejo o vilão se aproximando de alguém conhecido meu, na tentativa vã de materializar a minha vida.

Foi um longo sonho-pesadelo. Foi como se eu tivesse me mudado para um vilarejo no umbral. Senti pena de mim e, mais do que isso, senti pena do vilão. Preso a uma bolha de loucura, num corpo adoecido que não o deixa ser feliz. Preso em si mesmo e dentro de uma mente às avessas.

Não há cura, não há verbo e nem adjetivo, e desprezo já não traduz o rombo na minha alma.

Honestamente, eu rezo para que um dia o vilão deixe de ser vilão e se torne o mocinho. De alguma outra história fantástica, naturalmente. E quem sabe em outra vida.

Rezo também para que esse pesadelo enfim termine. Que a bola de neve derreta e se transforme numa piscininha linda de água bem quentinha. É o que eu queria nesse exato momento. Por ora, restam as inúmeras pastas arquivadas em celular, e-mail e computador, com as suas quinhentas mensagens eternizadas e fotos de seus surtos psicóticos (traduzidos em meus hematomas), provas cabais e minha única defesa contra as máscaras dele. É tudo o que me resta. Além do medo, é claro.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

voltei.


Falo já. Falo um dia. Falo muito. É que a viagem foi longa e por pouco eu sobrevivi. Quase fui e não voltei pra dentro de mim.
Falo já.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

quinta-feira, 4 de julho de 2013

noparaíso


e disseram-me, direto na alma: ouça muito e cale. seja feliz e cale. viva, mas de boca fechada. cale-se: calo-me. cálice na mão e um brinde. e silêncio. despeço-me daqui, foi bom, mas ai, devo me calar. até.

felizémeuprimeironome

 
Não há um instante que não possa ser a cratera do Inferno.
Não há um instante que não possa ser a água do Paraíso.
Não há um instante que não esteja carregado como uma arma.
 
- Jorge Luis Borges

quinta-feira, 27 de junho de 2013

depressaeprasempre


Rir por último e rir melhor, rir no fim e não no começo - porque é a risada mais lenta e mais gostosa -, rir de mim sem PRECISAR zombar dos outros (dica) e, antes de qualquer coisa, não rir dos outros - porque já aparentam rir o suficiente, cá entre nós -, ter o infinito e não o efêmero, ter a cortina para enfeitar e não para fingir algo que não existe, e, acima de tudo, me esconder a cada intromissão indesejada das mesmas pequeneiras de sempre: mudando de canto e mudando de olho mágico. Vida doce e vida pura, verdade e futuro andam juntos, mais uma vez.

quarentaenovedesejos-disseabalança

Passou um vento forte de Junho e ela saiu voando. Lá de longe viu o tempo passando...

terça-feira, 25 de junho de 2013

maprettyone

Que é que penso do amor? – Em suma, não penso nada. Bem que eu gostaria de saber o que é, mas estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. 
- Roland Barthes

segunda-feira, 24 de junho de 2013

 
"A verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio."
(Heidegger)

domingo, 23 de junho de 2013

canções de apartamento


 A dúvida pousada no meu ombro como (o fantasma) de um pássaro antigo, ora negro, ora multicolorido, sussurrando enigmas e gritando obviedades, berrando palavras controversas, soprando pavores, rasgando os meus ouvidos e mutilando minha consciência, exercendo a dicotomia perdida do clichê de um ser libriana. Ir e não-ir lado a lado com o mesmo peso na balança da consciência. Sombra que me acompanha, dando um não preventivo a todo e qualquer sim, como uma corrente presa ao pé, pesando a minha alma. Um querubim atrevido em cada ouvido, opinando contrariedades em meu juízo, oprimindo minha natureza. Noites metodicamente mal dormidas que compõem o cenário das minhas páginas marcadas nos livros de cabeceira. E desconto tudo no sublinhar dos parágrafos, identificando-me com as palavras como uma forma de fuga. É desacreditar que nado em liberdade fluida e felicidade plena, por medo, por receio, por achar que não enxergo bem. Sou cega, sou míope? Como saber se enxergo direito o que existe ou se sofro de alguma espécie de daltonismo das coisas, afinal?

Ando um passo à frente e recuo dois - de novo... -, eterna mania de autossabotagem, doente autossabotagem - é preciso que me empurrem à frente para que eu caminhe e não mais engatinhe, como quem tateia no escuro com medo de bater a testa na quina, quando poderia simplesmente fechar os olhos e me deixar ser levada pelos sentidos. Dúvida, medo, receio, recuo. Canções de apartamento e um chá de morango ao pé da janela, e muita, mas muita angústia de ver a porta se abrir e eu dar de cara com a alegria do cheiro moreno da pele dele. Grito na janela e me permito expor meu amar quem me ama, tão lindo. Boralá. Não, pera. Pronto. Não, pera...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

getlucky


Like the legend of the phoenix
All ends with beginnings
What keeps the planet spinning
The force from the beginning

segunda-feira, 17 de junho de 2013

forgetting to give back

o que pra alguns é clausura pra mim é luxo
o que pra muitos é misantropia pra mim é sossego
não pesa na consciência a distância - e se doer, que doa
nem seu subsequente distanciamento - para ser bem redundante
só busco a saúde, o sopro, a paz
e quem quiser do mesmo, que me acompanhe...
jamais o contrário.

é como beber o vinho sem ter ressaca,
como sentir sabores sem doer o estômago
é estar em pé e ter fé na vida.

a vida é doce, depressa demais


Acordar com o bom humor dos efeitos de um fim de semana perfeito. Respirar suspiros até o último espaço que suportam os pulmões. Contemplar os cheiros doces das quinas do apartamento. O gole inicial que desperta. Agradecer ao Mestre pelos momentos e pelos acontecimentos dos últimos dias. Foram horas - e todas elas - impecáveis. Um sorriso sincero é o espelho de toda a bondade que existe. E, acima disso, a sinceridade é o mérito de quem realmente sabe o que faz. E claro, de quem é feliz. Grata e renovada, começo a semana com todas as forças do mundo, pronta para fazer o melhor de mim, mais uma vez, e muito embora finalmente de férias, carregando o peso do peso da mais recente "feira" feita na livraria (porque certos exageros são justificáveis e aceitáveis). Cabeça a mil e sempre, e eu digo sempre, a certeza de que sou só minha e dona dos meus minutos.

domingo, 16 de junho de 2013

piegas

Mimos para os dias de chuva. Janelas abertas para o bom pressentimento de que já é tempo das cortinas, muito embora anônimas. Tudo flui e tudo ensina.

Importante é quem cuida, é quem lembra, é quem nunca falha. É quem faz e refaz tudo sem pensar duas vezes. É quem faz questão de estar por perto e que jamais nega carinho. É quem tem coragem de mostrar o que realmente sente e não desperdiça tempo com o mimetismo deslumbrado das aparências. Nem tudo o que reluz é ouro e nem toda flor perfumada é de verdade. Fingir engana aos tolos, mas não a mim.  

quarta-feira, 12 de junho de 2013

quiet is the new loud - my valentine

Amou o amor em silêncio,
Para que durasse pouco, para que valesse muito
E perfumou em um vaso da sala as cores que não desbotam, das flores as quais tudo devotam
e que duram o tempo suficiente do particípio.
E a vontade de cantar a deuseomundo 
O que eu fazia questão de manter em segredo,
por pura pirraça, por puro ensejo (falta de barulho é vantagem no fim das contas),
...de que aquilo um dia se tornasse tão efêmero
quanto hoje em dia é pleno.
Menino dos olhos de cor viva,
Tanto tempo até aqui...
Mas se o Tempo é Chronos - e bem tu sabes
ao pouco ele se esvai, nômade da existência,
quando menos se espera,
dobra-se a esquina.
E conclui-se que o melhor dia do mundo é o Hoje, e ele é só nosso.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

If you try walking in my shoes


Do lado de cá fica a história; do lado de lá, resta a memória. Fito um semblante de sobrancelhas arqueadas, como quem me indaga pela leveza do corpo. E como não ser leve? Levo comigo a lembrança mais doce do presente imutável, faço dele a cada segundo a mais linda reprise do que já aprendi um dia. Sei que Narciso morre por dentro já ao mirar-se de relance. O descobrimento de si dói somente ao que não espera. O mundo sem véus é mais do que se pensa. O espelho é mestre e o exemplo, tomara eu, que se faça da melhor maneira possível a quem me observa. 

A surpresa é o combustível dos que amam, e como eu amo... A rotina cansa mas é só minha, isso já vale mais do que tudo. Piso o concreto dos dias permeando as gentilezas que acumulo, no sorriso e nos olhos castanhos. Não jogue espinhos e pregos na estrada por onde você passa, um dia você pode voltar por ela descalço.

domingo, 9 de junho de 2013

zelo

Quando o sossego que me toma torna-se maior do que o sossego que me dá, dá-se a hora de delimitar espaço e tempo e dar meia volta - volver. Retroceder, recuar, reposicionar o não e o sim, ressuscitar a bolha e reagrupar palavras e gestos. Alto lá e peraí, que eu não sou posse de ninguém. Jamais me doeu decidir pela própria sanidade, e não será agora que hesitarei. Que pensam que fazem?, minha paz ninguém me tira. Descobri-me, de fato, egoísta e resistente, mas não do egoísmo amargo,  e sim do egoísmo sábio e sadio, enfatizando-me dona da minha própria saúde, usufruindo os ensinamentos que me deram meus pais, jamais permitindo que me anulem. Se me tiram o sono e me chamam tanto o nome, faço pausa e mudo o ritmo. Pondero tudo tal qual aprendi, do modo que faz bem a mim. Aquilo que me toma o juízo e me atrasa, deixo que siga o caminho sem que me leve. E pego eu o caminho do sorriso, recuada e sossegada, adentrando mais uma vez as mudanças positivas.

sábado, 8 de junho de 2013

paradoxo



"Toda a infelicidade dos homens vem apenas de uma coisa: não saber ficar em repouso, num quarto." 

(Pascal)

terça-feira, 4 de junho de 2013

caboclinha


Exausta, mas mais feliz impossível...
papitodocéu bom.
cores novas coisas novas :)
um misto de sorriso emoldurado e carinho no peito, o tempo inteiro.
Só me resta tempo e só me sobra saudade :~~~~~~

segunda-feira, 3 de junho de 2013

hey you

 
LENÇOL SUJO

Um casal de recém-casados mudou-se para um bairro muito tranqüilo. Na primeira manhã que passaram na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou através da janela em uma vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido:

- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal. Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade, perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar roupa.

O marido observou calado.

Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou com o marido:
- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos... Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!

E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.
Passado um tempo a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos e, empolgada, foi dizer ao marido:

- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas. Será que outra vizinha ensinou? Porque eu não fiz nada...

O marido calmamente respondeu:
- Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela.

E assim é.
Tudo depende da janela através da qual observamos os fatos. Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir, verifique seus próprios defeitos e limitações. Saiba ver a fundo se sua vida se caracteriza por aquilo que você faz questão de aparentar que seja, ou se há alguma falha que você insiste em ocultar, ou até mesmo não enxerga, projetando defeitos e falhas de virtude nos outros e distraindo-se tanto a ponto de não prestar atenção em si. Olhe, antes de tudo, para sua própria casa, e veja se há teto de vidro. Olhe para dentro de você mesmo, para o seu reflexo no espelho, e veja se há umbigo sujo. Olhe em volta e veja se você é perfeito(a) a ponto de querer ensinar ou julgar os outros.
Introjete nos seus pensamentos um tom a mais de humildade. Se não gostam de você, não significa que sentem inveja. Significa que há algo de errado aí dentro. ;) Construir inimizades e colecionar desdém e críticas à vida dos outros não torna você melhor do que ninguém. Pelo contrário. Faz de você a personificação da mediocridade. Desconfie se de fato o defeito e a falha estão no outro ou se na verdade há algo em você que precisa ser corrigido. 
Lave sua vidraça.
Abra sua janela.

terça-feira, 28 de maio de 2013


I left my soul there,
Down by the sea
I lost control with you,
And living, living,
And I, living, by the sea

domingo, 26 de maio de 2013

a three-fold utopian dream


e agora não tem mais caminho de volta.

doce

"Gente
que sorri
e de repente
traz o tal
riso
pra alma
da gente."

— Ana Favorin

quinta-feira, 23 de maio de 2013

let it blow


de tamanha a grandeza da felicidade por dentro, é possível o ser humano explodir?
somos capazes de sumir[mos] no Nada, dada a leveza da alma?
é permitido a nós o dom de flutuar num sorriso?

apontando o dedo à pessoa mais linda dos últimos anos,
morre-se de deslumbramento?

mirando ao porto seguro de todo e qualquer desejo,
o paraíso no paradoxo do pecado,
sinestesia, velha sinestesia
e só um telefonema para filtrar o dia.
é possível um beijo dar choque?
tô louca e sou pouca,
e já é muito esse ano

que ninguém retroceda o Tempo,
e tampouco rebobine meus gestos
para trás jamais se anda, para frente tudo se busca,
futuro e seguro,

a-m-o-r,
verbete mais piegas e mais lindo e mais termogênico do mundo.

domingo, 19 de maio de 2013


férias, por favor

segunda-feira, 6 de maio de 2013

será que esses olhos são meus


 trago em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir
[...]
meu trabalho é te traduzir

domingo, 5 de maio de 2013

Les chansons d'amour


choveu
fechou a janela

apagou a luz
esqueceu a roupa,

céu grisalho, pés gelados

deitou-se
ali ficou, o dia inteiro

cobriu as partes que o lençol não alcançou
esquentou tudo o que fez frio

sussurrou no ouvido
entranhou-se nos aromas

como quem não esperava, fez frio

"vocêéminha"

fechou os olhos
sorriu

era tudo pleno.

um vinho
a tv
e nada mais foi preciso naquele dia
nãometiremdaqui.

domingo, 28 de abril de 2013

sexta-feira, 19 de abril de 2013

daqui pra lá não vai sobrar nada pra ser

Abro os olhos com o rosto ainda afundado entre os dois travesseiros - um que apoia a cabeça, um que protege da claridade da luz que vem da janela ainda sem cortina. Pontualmente às seis, quando o despertador do celular já não aceita mais soneca, levanto-me e por um quarto de tempo não me reconheço no espelho - o rosto amassado e marcado com as flores da fronha, o pescoço doído e marcado do torcicolo da madrugada, o cabelo fora de eixo e as olheiras de até bem mais tarde. E nessa rotina de fitar as marcas do rosto e as chagas dos outros e os fios despenteados por longos minutos, enquanto a água fria faz o seu papel, lembro de como me espalhei em cada canto do meu quarto. Por fim, o banho quente me abraça. O creme do cabelo me anima. É cheiro de outro-dia. É sinestesia. Mentalizo já no café com leite - quente e doce - a minha rotina e enumero os afazeres do dia. Lembro que é dia de sentir saudades. Lembro que há seminário para fazer. Lembro do relatório. Lembro da tese. Lembro que é o dia do amaciante e do sabão em pó. Lembro da lista de compras. Lembro de trocar os lençóis, lembro de atender ao telefone, lembro de marcar os médicos do mês de Abril, lembro de tudo, lembro dele. E lembro de novo das saudades. Mas pera lá, algo muda, hoje é sexta, e aí...


terça-feira, 16 de abril de 2013

mit Zucker, mit Liebe

Quando a palavra "vício"  torna-se banalizada no cotidiano, longe de representar as falhas e fraquezas patológicas dos outros, mas perto demais de ser confundida com a virtude dentro de mim. Porque passa longe de ser aquilo que me prejudica, tem feito milagres no meu dia-a-dia. Seja um sabor, um cheiro, uma cor. Tudo ficou mais bonito, mais puro, mais simples, com bordas e texturas, com limites e contornos - não mais solto no todo, não mais abstrato e subjetivo. Besteiras de sorrir para o pardalzinho na janela, já não sei quão satisfeita eu sou.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

cayman islands


Todo o processo vertiginoso - ainda insistente - de conter o frio na barriga enquanto as borboletas fazem a festa; todo o ritual de sentir saudades e de corar as bochechas à medida que as horas passam, à espera da noite; o tom de voz pueril que escapa entre as palavras, já sem controle; as músicas cada vez mais melódicas - tudo condena o pieguismo do recomeçar e do não-ter-medo-do-amanhã. Se durar um dia, certamente foram as 24 horas mais doces das últimas épocas. Se entranhar como um para-sempre, não importa o tempo, serei boba sem pudor e sem prazo de validade. E não é essa a graça, afinal?

quinta-feira, 4 de abril de 2013

hm

Vertigem, vertigem, coração palpita; Sinestesia - e essa só presta de olhos fechados -, metonímias fáceis e todos os sentidos à flor da pele. E um nome que ecoa na cabeça, fonemas que sibilam e que acalantam, e um cheiro que permeia a roupa, e o gosto que só sentindo, e a alma que me salvou do precipício, o oposto dos medíocres, o oposto da angústia. E é uma alma das mais encantadas. Sente e lê a mente. Crente de presente. É o silêncio, é o olhar tranquilo. É a saudade. Perto, sou verme. Sou cega. Sou outra. Sou melhor.

Uma trilha sonora já fixa, um sussurro contracenado com suspiros. Ceguei, ceguei, a tua luz...

terça-feira, 26 de março de 2013



"É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca."

(Chico Buarque)

sábado, 23 de março de 2013

"Não se deve confundir 'cordialidade' com 'boas maneiras'. (...) O 'homem cordial' não pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva, inclusive suas manifestações externas, não necessariamente sinceras nem profundas, que se opõem aos ritualismos da polidez."

- Sérgio Buarque de Holanda

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Toda a verdadeira vida é encontro.
-Martin Buber

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


Please come right up to my ears
You will be able to hear what I say

iw

tirandapoeira

É quando o tempo já não caminha e somente se esconde entre as sobras e sombras da própria rotina, quando há mais obrigações do que minutos no relógio dourado, quando já não dá tempo de esperar o café esfriar para bebê-lo, e queimar o céu da boca nem dá mais barato como antigamente, porque no mesmo instante mil outras coisas já chegaram chegando, disputando a atenção. E agora é só esperar as ruguinhas no canto dos olhos, e aquele pigarro de quem já pensa em mudar de hábitos, aquele suspiro de quem se dá conta que daqui a pouco o ano acabou.

Disfarço sorrisos e afino silêncios, me restou ser feliz pra dentro porque nem tempo mais eu tenho.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

quiet is the new loud


Preenchendo quase que todos os números do calendário, paradoxalmente todas as transformações se iniciam. Mudam as cores das molduras, das paredes que me rodeiam até o ápice, dos talheres, dos móveis, dos objetos em cima da mesa. Mudam os sabores ao acordar.  Mudou a caneca do café com leite da manhã. Mudou o tom de voz. Mudou o leque de sinestesia. Mudou o ritmo da coisa. Tudo muda. Em tempos de fim de ano, acrescenta-se mais verde ao ambiente interno do apartamento, há bolas vermelhas e douradas até o teto - e luzes coloridas que iluminam toda a noite, trazendo muito mais sensações do que as que eu posso descrever aqui. Mas não são essas as cores em evidência. Há muito mais de tudo, mais do que se pode imaginar. O silêncio é muito mais do que o novo ruído, é vida.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

nur richt


Um álbum trilha magia, do começo ao fim - para inaugurar a semana.

domingo, 28 de outubro de 2012

you crazy world, crazy world yeah

Sentou-se na borda da cama na intenção de evitar o sono, e pensou: "aqui eu poderei ler o quanto quiser, não cairei na teia". Admirou o conforto de quando se muda o colchão de posição, como se tudo se acomodasse melhor, como acontece com tudo o que é novo. Inclinou-se nos travesseiros e demorou-se por ali, nas páginas do livro, na perseverança da desconstrução, nas lacunas das sílabas, no enredo da noite, na beira da cama, atenta e alerta, temendo se entregar ao sonho, hesitando chegar à inércia, lutando o quanto pudesse para não ser pega nas entranhas do pensamento, quando finalmente o sono chegasse. Mas quem poderia imaginar que a teia tem seus meios e que conseguiria, ainda que à margem, prender a sua atenção? E então, ali mesmo, ela sonhou acordada. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

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FFFFFFFFFFFFFFF
EEEEEEEEEE
LLLLLLLLLL
IIIII
Z

quando se encontra a dúvida e a transforma em planos - ficatudobemdenovo
#nerd

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

terça-feira, 18 de setembro de 2012

mirror

Transbordei ao fechar os olhos, senti os pés tocarem o teto, contemplei o frio do piso branco do quarto com as mãos e deixei passar pelo pensamento todas as cores possíveis e inimagináveis. Um vinho que não trava na boca. O colocar-se em órbita, por mais que traga consequências dolorosas, justifica-se algum tempo depois, sim, em quase todos os ensinamentos que acumulei durante meus dias. Proteger-me terá sempre o mérito devido, mesmo que doa. Suspiramos, olhamos para trás, sentimos falta, diariamente, mas sorrimos, respeitamos e aceitamos,  andamos em frente.