O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

segunda-feira, 30 de abril de 2012

you only live once


Aceitando de uma vez por todas que tudo é inevitavelmente espiral e cíclico, chego a supor que é mais amedrontador do que parece saber que quanto mais eu fujo de algo mais perto chego ao início. Reinicia-se toda a história, principalmente o prefácio. Isso de fato me assusta, sinto medo. Quanto mais o tempo passa, mais depressa voltamos ao começo de tudo, paradoxalmente - as linhas sempre se cruzam, por mais que as façamos paralelas. Está tudo sempre fugindo ao nosso controle, ao dos outros, ao de todos - não sei se por culpa nossa ou se por ironia mesmo. Tenho medo do futuro, porque ele se assemelha muito com o passado. Antítese das causas e consequências. Canso as pernas, corro rápido, pulo fogueiras e desvio as mesmas paisagens, mas voltamos sempre ao cenário de outros dias. E quanto mais veloz conseguimos ficar, mais antecipamos a linha de chegada. O começo é o fim, e o fim jájá se inicia mais uma vez. Paredes de só uma porta - de saída e de entrada. Uma só janela para ventilar a casa e para jogar-se, se isso for preciso. Quanto mais eu corro, mais dou a volta no globo de nós mesmos, chego ao princípio e afloro todo o constrangimento de reconhecer os nossos mesmos sentimentos, e agora eu só preciso saber o que fazer com isso, além de engavetar tudo da maneira mais segura. Devo desacelerar o passo, se já sei aonde isso vai chegar. E assim fica. Reduzo o percurso e, sem ao menos perceber, involuntariamente aumentamos a velocidade, por nunca termos aprendido a usar o freio.

Embora tudo isso pareça desconfortante, não me preocupo. Junto à doença vem sempre a vacina, sobrevivemos graças à dicotomia de todos os dias. A saudade não sobrevoa nosso nível de autocontrole, vem sem que percebamos. O equívoco maior está em não reconhecer a cena tal como ela é e acabar por interpreta-la e utiliza-la de modo errado. Não sei se apoio o ombro em Heráclito ou  em Parmênides, mas sei que tal como o rio flui, ele jamais permanecerá o mesmo. Somos todos águas  turvas ou calmas de um rio. Fluímos., mesmo que retornando à mesma órbita. Voltar para o mesmo lugar não significa ser basicamente a mesma personagem, ou possuir o mesmo histórico, roteiro ou contexto. Sentir o mesmo sentimento nem sempre faz disso um déjà vú em sua essência. Não dói. Alto lá no cartesianismo, ele não convém sempre. As águas voltam à nascente, mas não na mesma propriedade, já disse... Defrontamo-nos com as mesmas descobertas, mas não como um dia já foram.  Redescobrir é o segredo. Hoje é tudo outra coisa, a roupa que nos veste é a que nos cabe, e não a que já usamos e já desbotou. Há de se renovar sempre, de acordo com as estações.

Antes de causar qualquer assombro, enfatizo as vírgulas. Há sempre a interpretação desvirtuada ou direcionada a um pensamento já concebido, mas não criemos pânico. Não é nada disso. Entre os dedos temos uma arma em potencial - somos capazes de transformar uma coisa em algo melhor. Fazemos disso um grande presente para nós. Afeto e carinho jamais serão desperdício. E soube que foi inventada a amizade e suas vertentes. A saudade é um dom.



A alma humana avança constantemente, mas em linha espiral. 

(JOHANN WOLFGANG VON GOETHE)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quando a hermenêutica passa raspando

Quando a limitação da própria realidade limita também a capacidade interpretativa de uma pessoa, muitos mal-entendidos podem vir à tona. Todo esse desespero defronte a tela me faz pensar que alguém está vindo ao lugar errado, e não sou eu essa pessoa. Conclui-se, portanto...

É um lema constante que repito a quem precisar dele: tudo nessa vida é pura questão de hermenêutica. Posso falar de mil coisas, mas se você quiser, vai entender só uma. A que lhe convém, ou a que lhe dá medo, a que lhe ameaça, a que lhe enaltece. Além da pontuação no devido lugar, e creio que dessa eu faço bom uso de acordo com a minha linha de raciocínio, há também todo o leque de sentimentos subjetivos que influenciam uma mesma frase. Eu direi uma coisa. Você, sem convite, virá e entenderá outra, como lhe convir. E a partir daí a responsabilidade já não é minha. Conclui-se, portanto...

Posso pouco me dar nomes e faces, e assim manter meu afastamento das lentes altas, mas se me expresso aqui ou ali, não me julgue pelas poucas palavras. Conhecemos alguém no confronto pessoal, e não nos parágrafos de realismo ou ficção. Há arbitrariedade na minha exigência de privacidade, eu sei, mas também não pedi sua presença no recinto. Aquilo que é público encara o dilema de estar sujeito ao julgamento dos desconhecedores, e me preocupo se por acaso eu vier a prejudicar alguém que se joga em precipício de raciocínio. Se eu falava de qualquer outra coisa que não era propriamente o seu tópico pseudo substancial, só peço licença. Eu falava de coisas que certamente não dizem respeito a você, e sim às minhas personagens. Conclui-se, portanto...

120km/h

No espaço de tempo que separa um dia do outro todas as coisas pensáveis e inimagináveis podem acontecer. Não é preciso mais de um minuto para que a decisão que adentra o nível mais importante da sua vida seja tomada - durmo em um mundo, acordo em outro completamente transformado sem piscar os olhos. Na virada dos números ou no deslizar dos ponteiros basta uma frase concluída com a devida pontuação e tudo muda. É a dinâmica da realidade, a realização dos objetivos propostos. Estranho olhar para trás e não ver nada conveniente ao agora, apesar de ser tudo como sempre foi. Incrível define a passagem do minuto seguinte. Depressa demais os sabores e as idéias se formam no palato, e já crescem, e já somem, e já são lenda, e já são outra coisa. A vida é doce, depressa demais. A velocidade é diva. A coragem que me foi dada de presente me ergueu ao novo batente, sem que eu me desse conta, degrau soberano de concreto e não de nuvem, meu futuro finalmente desenrolado e desvelado para compor quem eu sou, além da Filosofia, além das Letras. Vem algo mais agora. O nó do laço. E no próximo minuto, e no outro, e no seguinte, vem sempre mais. E então não contenho a risada de ansiedade, tudo novo.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

outofspace

Senta num banco de praça como se conhecesse tudo do mundo, rasga o papel da bala e rascunha um pensamento vago, fala da hora, da chuva que molhou os pés, solicita atenção e relembra uma notícia. Tudo tão recente e ao mesmo tempo tão antigo, e é como se eu não estivesse ali, e é como se eu não fosse, como quem nunca foi, jamais existi - nada daquilo é verdadeiro. Nem estou lá. Nunca nos conhecemos. Há profundidade em outro tom de azul, não nesse.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

21 de Abril

No dia em que se comemora a Liberdade como entidade, transpõem-se o sim e o não. Lembranças são reformuladas como páginas de um álbum, embora as fisionomias já tenham mudado ao longo dos dias. Um sorriso num canto do rosto, uma lágrima no lado oposto. Memórias de anos dourados - misturam-se ao gelo, oscilando como extremos. O velho caleidoscópio de sentimentos desnorteia, metodicamente, o equilíbrio da racionalidade, tanto quanto a ventania forte que se deu ao amanhecer. Voou o cabelo, misturaram-se as interjeições. Há de se limpar a poeira, há de lidar com os vestígios. Inevitavelmente, tudo beirou o sensível, a sinestesia misteriosamente encheu-se de velhos cheiros, a saudade se assumiu presente e fez frio, muito frio. Confrontei a vulnerabilidade. Quando o um uniu-se em dois, em toda a sua dimensão de paradoxo, dividiu-se o dilema de dar um passo à frente e 5 para atrás. Anos concorrendo com meses - vidas contrárias que quiçá já não se encontrem e laços de cetim que jamais se desfizeram. Muita saudade. Um trago, uma dose, recordações e muita serenidade. Tudo que vai, leva consigo uma razão que se justifique. Tudo que fica tem um porquê. E aquilo que volta, há de voltar por si. A minha crença se baseia na propriedade - aquilo que nos é dado, ao longo do nosso percurso, levamos com a gente. O que não for, deixamos no meio do caminho. Serenidade é a chave da nova porta. Saudade é o que tenho pra hoje, como rima. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

I am the mask you wear

As decisões e suas conseguintes atitudes definem o homem tanto quanto suas roupas, sua voz, seu cheiro, seus traços, suas idéias. A falta delas é um grande problema. A deficiência das mesmas - o meio termo - torna as coisas mais difíceis ainda. A eterna espera do bom funcionamento do Outro vai além do sustentável, resta o abstrair. Faltam atitudes, sobram espera e adiamento. E assim engolem mosca sem que a culpa seja nossa. O ser humano veio ao mundo com todas as ferramentas, exceto aquela mais necessária - a concepção e absorção da existência - e permanência - do Outro, seu semelhante. Hoje, eu roubaria toda a misantropia do mundo só para mim. E doaria coragem a quase todos. 

Somos monstros enrustidos em faces de traços finos. Seres irreconhecíveis da mesma espécie, mais, e  sempre, do mesmo, habitando uma completa e interminável Torre de Babel. As vozes que não se cruzam, os sons que não se decodificam, senhas e signos jamais decifrados. Estranhos da mesma coisa, do mesmo lugar, do mesmo destino. Poeira que não reconhece poeira. O tempo passa e viramos história.

No mais, atendo o celular e reconheço a voz de sempre.
Se isso já basta, eu não sei, mas chego a desconfiar que já é um grande bom indício de civilização... 

terça-feira, 17 de abril de 2012

always there

You walk into the room
With your pencil in your hand
You see somebody naked
And you say, "Who is that man?"
You try so hard
But you don't understand
Just what you'll say
When you get home

Because something is happening here
But you don't know what it is
Do you, Mister Jones?

quinta-feira, 12 de abril de 2012

The pattern of moonlight on the bedroom floor is a cold fire


Se me bate à porta e ressuscita as aspas, se me cheira a aura e me diz sobre o vento, se me olha nos olhos e não contesta a maldade dos outros, recebo o buquê de saudades vermelhas, aceito o frapê de café, meu favorito, como também a surpresa da passagem. A fantasia é a mais real das suposições. A amizade é o triunfo dos discernidores. Corrente e vínculo - coisas que se transformam. Tudo tão cíclico, mas tão imprevisível. E tudo onírico, se pararmos para pensar. Apreensiva e ponderada, trago, trago, trago – e não sei para quê inventaram o pudor, mas sei que os vícios se fazem, ano após ano. Os retratos trarão a serenidade que procrastinarmos, pois somos humanos, mas não precisamos da angústia. Empresto-lhe o sim e entrego-lhe um sorriso de afeto, compartilhando minhas raras horas de sono, não é época de nada, mas é tempo de brisa. As coisas se transformam, brindemos, e essa é a certeza vaga que aprendemos ao longo da vida. Há carinho para todo o sempre, basta cultivarmos. A compreensão depende de dois pólos, um que liga, outro que recebe. Na vulgata filosófica, Heráclito é o pensador do "tudo flui" e do fogo, que seria o elemento do qual deriva tudo que nos circunda.  E eu concordo. Ligo o som e vou com calma, porque é hora do rush.

Existe um grande abismo entre aquilo que realmente somos e aquilo que concebem de nós. É um completo fardo saber que posso vir a ser algo que ninguém discerne, como também não ser aquilo que pensam que sou. Tão complicado e inalcançável quanto o autoconhecimento é o nosso reflexo perante os outros, a constante deficiência do expressar-se por completo. Por consequência, julgam-nos o tempo todo. Creio que aí está a base de todo mal entendido, geração após geração. Aludindo a Drummond, lutamos com as palavras, guerreiros das próprias causas. Ainda assim, declinamos na derrota dessa constante batalha, pois seremos sempre a insistência do que somos conflitando com o que aparentamos ser. Por mais que nos esforcemos, jamais nos enxergarão como desejamos. Talvez a informação que carrego não está embutida na sua consciência ou na dele, e por isso não se pode prever o que é verdadeiro em mim. Há de lutar com as palavras, no fim de tudo. Vamos ao fundo do rancor, por exemplo, mas não vamos ao fundo dos motivos precursores. É a preguiça inata do aparente. É a luta vã que nos define todos os dias. O dilema e a dor estão, portanto, no fracasso do próprio semblante, na imagem pela metade e marginal - sempre à margem do real. Seremos a matemática do um e dos outros, alguém anulando-se nas características mais importantes e transparecendo no superficial, nem sempre visto corretamente. E se o Homem tomasse conhecimento disso e então lembrasse o tempo todo, saberia reconhecer que trata-se de um ato que provoca profunda solidão, da qual é difícil se desvencilhar. Essa solidão pesa e fere. Dói. Nossas palavras são nossas armas.  Por ora, como Drummond, lutamos, a fim de sobrevivermos entre os demais. A vida é uma pergunta e o mundo é uma ilha, há de se salvar e sobreviver, sempre.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

ch ch ch changes

Eu mudo o rio, mudo de planeta, mudo a estrada e mudo o sentido. Mudo minhas dúvidas, mudo as certezas, mudo o conhecimento e mudo os compromissos. Mudo de nível, mudo os ares, mudo de opinião e mudo a frequência. Mudo de país e mudo sem piscar. Mudo a trilha, mudo o tempero, mudo as cores e mudo os móveis de lugar. Mudo as teses, mudo de formação, mudo a metodologia, mudo os critérios. Mudo junto com as mudanças, mas não muda a minha felicidade.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

thosefantasiesofmistakes

Tentar ser o que não é – por dentro, por fora - é a perda de tempo dos tolos. Viver o que não lhes pertence. Máscaras que não duram, formas que não se encaixam, tons que não realçam, timbres que não penetram os sentidos. Valores que não enobrecem. Pessoas que desperdiçam os minutos, na busca de algo que jamais virá - a superficialidade do amanhã, incerto e sem propósito, se o agora é tão pesado, tão complexo e tão palpável. Há de ter tempo para digerir. Seja perto ou longe, buscar para si aquilo que não convém é assinar a própria carta de escravidão, quiçá de ignorância, ao invés da alforria de ser livre dos próprios pudores e principalmente das próprias falsas esperanças. Os falsos desejos escravizam. A liberdade que caracteriza o autoconhecimento, embora paradoxalmente um pesar, é imensurável.

Tenho gosto de café com leite na boca, mas não me esqueço do amargo das batalhas. Tenho completo tesão por elas, pois descobri que sou quase imune a qualquer lamento, visto que comemoro cada tropeço mais do que as vitórias. E que são muitas as vitórias... Respeitosamente, deixo para trás o que não quero. Apresento como doação a quem se envaidece com aquilo. Tenho nuvens nos pés e a paz de não carregar comigo qualquer fardo que eu não precise transportar. A cruz que se depara com a nossa força é só e somente aquela que nos acrescenta, nenhum miligrama a mais. Ao invés de buscarem solução, as pessoas buscam mais e mais problemas.

Viver, gozar, sentir, arriscar, bater o pé por razões concretas que mudam totalmente o sentido da viagem – isso sim me definiria