O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

domingo, 2 de setembro de 2012

swallow

Como pano de fundo - os tons de bege, como trilha ambiente - o barulho dos próprios passos. No meio da sala, na junção das duas paredes, nas sombras da cortina, no perfume dos cabelos, na melodia dos ruídos - encontrei os vestígios de uma revolução. Debaixo do sofá, ali, tão discreto, descobri o bilhete das declarações, tão fora de moda quanto a mesquinhez dos anseios errados ao próximo, como faziam e ainda fazem as mesmas pessoas enfadonhas de sempre. Fora de moda, porque já são melodia de outros ouvidos. Sentir e externar o alívio da felicidade alheia é decretar missão cumprida, pois o amar de verdade resume-se em querer o bem do próximo, não importa como, não importa onde. O oposto disso é mesquinhez. É tudo, menos amor. Sinto-me livre, acho. Tudo por ter me esquivado de ser sombra do outro, afinal amar não é tudo, é preciso amar certo. Brindar às próprias decisões tomadas um dia fez de mim vencedora hoje, mesmo  que quase me afogando nas vertentes da saudade. Fiz e quis o que era correto, fui amparada pelo tempo. Optei pelo não adoecer da alma, mas sorri para o que acontecesse em seguida. Eis o mistério das coisas que dão certo: coragem para as consequências. Um abraço, uma amizade ganha, um laço devidamente colorido, uma pessoa de quem jamais me esquecerei, alguém que ficará no melhor dos lugares de mim. Um amigo que encontrei na vida para semear a nossa missão, uma pessoa inacabada já pronta para a próxima lição da vida, pronto para evoluir - um personagem de quem levarei as mais belíssimas recordações, a quem desejo o melhor, a quem eu amo, como a mim mesma. A água que corre debaixo da ponte jamais permanece igual, à medida que passam os dias. Mas são elas que lavam os nossos pés, para caminharmos sempre à frente, sempre diferente, muitas vezes em direções opostas, não importa o sentido. Um sorriso no rosto apenas já traduz. Uma andorinha só não faz verão, mas faz a sua parte.

Debaixo do travesseiro, não muito frequentemente, ainda encontro a fita do cabelo, que me enlaça quando pretendo dormir, mas que não mais sufoca - enfeita ao invés de prender como um nó. Ainda como hábito, o copo com água permanece ao lado da cama, perto do abajur. Diariamente, como sempre, me esquivo de esbarrar nele, não molhando mais uma vez o livro com as páginas marcadas por grampos coloridos. Os óculos se desprendem do rosto quando a vista já está cansada, mas ainda assim não corro o risco da cegueira das coisas - agora eu enxergo. -. Repouso-o dentro  da flanela, na gavetinha da cabeceira. Fecho os olhos satisfeita, por mais um dia que deu certo.

As coisas são totalmente simples, os caminhos são perfeitamente sinuosos, as pessoas é que complicam. Enquanto esperam que soframos e patologicamente se satisfazem com isso, mostramos que, me desculpem pelo desapontamento, a vida é algo que flui tão perfeitamente que só posso retribuir em gratidão por cada dia. Os dias têm sido de correria, não sobra tempo para nada até que eu me permita a cara de pau de sentar ao pé do computador num domingo, e pense sobre tudo. Folga de quinze minutos, vida de tantos anos e a surpresa que cabe em apenas um segundo, nos próximos milhões de minutos, porque o melhor prazer conquistado é de habitar na felicidade da solidão. Tenho microanseios e microsegredos que ainda nem conheço. Sinto euforias. Flutuo na paz. Tenho ouro nas extremidades, tenho gostos adocicados na boca e sinestesia suficiente para mais uma jornada. Respiro fundo, e vou.

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