O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

sexta-feira, 6 de julho de 2012

tempo morto

Passa entre os dedos o punhado de areia quando a mão afrouxa. Voa o passarinho se lhe deixa a gaiola entreaberta. Evapora-se o líquido se o puser vulnerável. Desbota o tecido vibrante quando posto ao sol. Voa pela janela o papel, se não estiver bem protegido. Esquece-se um idioma, se não o pratica. E tudo que, por quaisquer razões, você deixa escapar, se desfaz. Deixar passar tudo sem querer agarrar com as mãos - e quem vai entender. Sou frágil demais para fazer a parte dos outros, representar o papel dos outros, tomar a atitude que caberia ao outro. Sou frágil demais, sou frágil demais. E consciente de que é o certo não fazer pelos outros. Perde-se o tempo, perde-se a oportunidade, jogo-me de volta ao começo como um trem que não chegou à estação, como se meu caminho continuasse sem paradas. Muita bagagem.  É difícil compreender os olhos que gritam e a boca que cala, simultaneamente - e quem vai entender?. Desisto da luta, se não me apresenta a vontade da batalha.  Desisto do filme, se o dialeto é estrangeiro demais para meu leque de linguagem e não há tradução ou legenda. Deixar que tudo seja sempre mudo faz com que as coisas se percam. O silêncio destrói. Lutar com as palavras é pouco para tantos riscos no calendário. É o tempo que já passou que nos parece rápido, e não a velocidade como caminhamos. O orgulho não é uma defesa, é um veneno. A vaidade é o amor próprio utilizado de maneira equivocada. Orgulho e vaidade matam, e arrancam as veias para fora, e doem, fazem arder, e queimam, e de novo, matam. 

Passei por entre os dedos. Me espalhei no resto da praia. Sem querer, pulei da gaiola - como não me colocaram de volta, acabei por voar sem rumo. Evaporei, pouco a pouco. Desbotei, retingi-me. Esqueci de esperar. Esqueci de entender. Fui embora, e não houve quem me impedisse.

E eu esperei, juro que esperei, surda de silêncio. E fui embora.

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