O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Buarque em Natal - faz de conta que é parte I


Entre todas e tudo, quando tudo aquilo só parecia um sonho, ele cantou uma das minhas prediletas, cuja empatia se deu na primeira vez em que ouvi Chico Buarque, quando era criança. Desde então é a canção que me faz olhar para dentro, conversar com as idéias e perdoar-me, sempre, em letra e melodia. É sempre quando recomponho o pensamento e sincronizo todo o interior. Perdoo-me. Ontem, nessa hora, eu só consegui fechar os olhos e chorar muito, muito, muito. Consegui sentir a textura do meu travesseiro do meu quarto na adolescência, a cor da parede iluminada pelo sol da tarde, após a aula, o vento que o ventilador do teto faria no lençol e nas páginas dos livros que eu deveria estudar e procrastinei para a noite, a espera e a lembrança dos fatos de cada dia, os dilemas que me angustiavam e eu de repente esquecia, a paixão por minha família, o desenho que a fresta da janela fechada faria na cama daqui a pouco, formando um leque. O perfume doce que eu usava, a cor das meias de minha predileção, o cabelo descendo a cama até o chão, as camisetas sempre me cobrindo o corpo miúdo. E mais uma vez me equilibrei. Injetaram-me nostalgia mais uma vez. 

É comum, embora raro, perdoarmos os outros. Mas poucos perdoam a si mesmos, e é essa vertente que carrego em Desalento, desde pequena. Não tem a ver com os outros, mas sim comigo. Eu nunca fui de interpretar algo da maneira aparente mesmo. Sempre levei para o lado B, digamos, aquilo que não é necessário mais ninguém captar. Toda aquela interpretação ao modo "português do ensino médio" nunca me foi suficiente. E por isso esse momento foi tão especial para mim, no show de ontem. Foi a vida dentro do sonho, sendo esse todo o espetáculo, sendo a vida o momento da canção. Aquilo que só eu entenderia. Aquele momento que ninguém tiraria. Poderiam ficar com todas as outras quase duas horas de show, nesse dia, pois só esta me bastava - a música que penetrou minha alma em muitos momentos do meu crescimento, desde criança. Em suma, perdoei-me, mais uma vez, pelas descidas durante a vida, pelos desalentos, e em cada vez que renovo o laço, renovo desde a passagem mais recente até a primeira, sempre em recapitulação, como sendo um prolongamento, uma bagagem completa, e sempre na verdade é, parafraseando o pedaço de Goethe e Fausto que carrego no braço, e relembro tudo mais uma vez, e hoje eu sou uma nova pessoa, de novo. 

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