O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

quarta-feira, 26 de maio de 2010


Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.

Recordo ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei;
Fui-o outrora agora.

(Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1976. p. 140-1.)

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Fui-o outrora agora, quando por acaso no "aleatório" do meu player de ouvido tocou "valsa brasileira", e logo me remeteu ao poema de Casimiro de Abreu ("a valsa") que recitei na minha 5ª série do colégio. Eis uma intertextualidade de "outroras", provocada talvez pelo dia grisalho e fresco de ontem, um "frio" que só os natalenses-da-cidade-do-sol reconhecem, mas ainda assim inspirador. Se nostalgia provém de nostos = volta + algos = dor (no seu sentido primeiro e etimológico: a dor do retorno), que maneira gostosa de apreender e absorver a dor da saudade, da lembrança, do outrora! Hoje sou um copo cheio de nostalgia (e de uma absorção positiva da dor da lembrança), um copo vazio de tristeza.

Feliz.

Graças a Pessoa, graças a Chico, graças a Casimiro... e graças ao grisalho clima de ontem, do úmido e fresco vento, e quem sabe até graças à xícara de chá verde com hortelã que bebo agora.

Um comentário:

  1. Ontei lembrei de vc ouvindo Chico! Aquele showzinho com vcs foi muito especial...

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