O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Umstände nähren mich


Um perfume adocicado, no cantinho de cada orelha. Coleção de cheiros na gavetinha do seu armário. O de passear, o para dormir, o para ir à escolinha, o para brincar, o para não fazer nada, o de reserva... E por aí vai.

Pequenas mãozinhas. Voz suave. Entoa o seu mantra diário como quem me diz que aquela é a minha vida, e nenhuma outra ao redor – mamãe, mamãe... -. Mania de dormir na cama dos pais, todos os dias ao amanhecer. Gruda em mim e rouba todo o meu espaço da cama, delimitado pelo travesseiro. Amanheço com olheiras, mas não abro mão daquele dengo.

Ainda que em seus três anos, já sabe contar piada. Faz-me rir como ninguém. Dá-me sermão quando mudo o canal das duas TVs. Corre pela casa quando balbucio “banho”, mas implora para que eu não desligue o chuveiro, ao final da “sabonetada”. Adora levar brinquedos para o box. Como característica de muitas crianças, ele também tem a sua pronúncia peculiar, e por mais que os mais velhos tentem corrigi-la, defendo-a. Ele nunca mais terá essa idade..., pode falar como quiser e será lindo!

Em transição. Deixando uma das últimas marcas registradas de um bebê (qual mãe não se enche de nostalgia quando o bebê torna-se menino?) – a fralda. Nas inúmeras tentativas ainda não eficientes, o VEJA perfumes da natureza tornou-se o meu grande amigo diário, constante, assíduo. O rosa, o vermelho, o verde...

Inúmeros pacotes de biscoito abertos. Um de leite condensado, um de banana, um de maçã e canela, dois de chocolate – com e sem recheio. Suco de uva soa como néctar. Apaixonado por maçã e banana. Se um dia me disserem que ele é a reencarnação de algum chinês, entenderei perfeitamente o motivo pelo qual ele ama tanto arroz. Apaixonado por cenoura e beterraba. Não passa um dia sem pedir suco de laranja. Jura que me ajuda a arrumar a casa, esfregando uma esponja de Bom Bril na estante... Eu surtaria, mas é ele.

Tem medo de “bruxa má” e morre de ciúmes se algum bebê chega perto de mim ou de suas tias. É apaixonado pela Turma da Mônica, pelo Ben 10, pelo Doug, pela Dora, pelo Cocoricó... pelo...

Nutrimos uma mesma paixão: As Trapalhadas de Flapjack.

Encosta seu nariz no meu, olha no fundo dos meus olhos e sorri, em silêncio. Ama beijinho na ponta do nariz. Faz carinho no meu cabelo, presta atenção nos prendedores da minha franja. Ama bagunçar a cama...é o meu grude. É o grude do papai.

Acorda às 8, mas nunca sozinho – sempre me desperta junto. Até breve, cama. Cozinha e sala. Ligo a TV. Desenho animado, TV Cultura. Bocejo. Liquidificador. Copo de água. Leite Ninho. Banana. Farinha Láctea. Achocolatado. Açúcar. Lavo a louça. Limpo fralda. Volto à cozinha. Café com leite. Coisas a fazer. Mamãe, vem aqui!, Volto à cozinha. Dê-me motivos e não terei frescuras, amo as tarefas domésticas (quando não são obrigatórias). Norah Jones, CD novo. Corto os tomates, ralo a cenoura, cozinho a beterraba, limpo as verduras. O maridão ama o meu purê. Receita da vovó. Mamãe..., e retorno à cozinha. Novamente, ouço um CD. Replay. Dançamos juntos. Arrumo a cama. Beijo o marido com sabor de hortelã. Volto à sala. Decoro todas as músicas de abertura de desenho. Organizo a estante. Arrumo a farda da escolinha. Passo a camisa. Banho. Almoço do filhote. Aula. Almoço, parte II - Salada super caprichada. Azeite e muito molho de pimenta, por favor. Suco. Um cigarro. Descanso. Leitura. Aula. Casa. Verifico o sono do filho. Cama. Filme e amor, até mais tarde. Espero pelo dia seguinte, que já começa - literalmente - ao amanhecer. Apaixono-me pelos meninos que bagunçam meu apartamento. Apaixono-me pelos homens que construiram minha vida. Amanhã, que venha logo... Que seja o mesmo.

Minha vida sem eles não é nada. Piegas? Seria, se não fosse real.
Eu sou o eu e as circunstâncias...
Parte I.

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