O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ein weiteres Jahr für mein puer aeternus


Escrito em 11 de agosto de 2008

"Foi no dia 11 de agosto de 2007. Foi quando ainda não estava previsto, tal como tudo o que tenho e vivi de mais extraordinário. Veio assim, de forma imprevisível, e foi por isso que beirou o incrível. Sem planejar. Sem prever, sem esperar. Numa manhã rotineira, senti as contrações. Poucas semanas antes do que eu imaginava. E foi assim, no dia 11 de agosto, na véspera do dia dos pais. Há um ano um mundo nasceu. O mundo realmente nasceu. Foi às 18:05h. Foi como a aurora. Foi como o começo do ar, do chão, do céu, de tudo em volta. Foi como se não houvesse nada que antecedesse esse dia. Foi quando o dia chegou. Foi quando ele nasceu.

Foi quando o olhei pela primeira vez e não acreditei. Foi quando eu só sentia, mas não o ouvia. E ali, quando acordada o vi sendo tirado pouco a pouco de dentro de mim, não pude me conter. Eu finalmente conheci a sua voz!, e finalmente reconhecia seus traços, as linhas e formas do seu corpinho vermelho. Foi quando o segurei pela primeira vez, usando a roupinha que por longos meses dobrei e redobrei, esperando sua chegada. Fechei os olhos e me concentrei apenas em sentir o cheiro da sua pele, do seu hálito, do seu pouco cabelo. Toquei e beijei cada dedinho, e a ponta do seu nariz, tão igual ao meu. Nenhuma outra boca tocaria meu seio com tamanha magnitude, com tamanha naturalidade. Foi quando ele acordou, e abriu o olho pela primeira vez. Quis penetrar seu olharzinho como quem quisesse de uma só vez despejar uma eternidade de amor. E eu chorei. Chorei, chorei por longos dias. Não consegui acreditar no que via, tão real e tão inacreditável. Foi quando o coloquei pra dormir pela primeira vez. Foi quando sarei suas cólicas, quando troquei suas fraldas, quando dei o primeiro banho, já no primeiro dia em casa. Foi quando me senti nervosa ao cortar suas unhas tão pequenininhas, pela primeira vez. Foi quando reconheci sua respiração, como se a ouvisse desde sempre. Foi quando ouvi seu primeiro riso, sem motivo, e brinquei, dizendo que ria para o anjinho da guarda. Foi quando passei a ter olheiras e a acordar cedo, para cuidar dele. Foi quando me vi já mais velha e vendo ele me apresentar suas namoradas. Foi quando olhei pro seu pai e o vi também cheio de barba e tatuagens, já adulto. Foi quando já não mais fazia limpeza de pele, spinning ou algo fútil, só para que tivesse tempo para meu filho. Foi quando chorei emocionada só por reconhecer nele os meus traços, meu nariz, meus trejeitos, a mesma posição ao dormir ou ao sentar. Foi quando me identifiquei com amigas que também são mães, e hoje em dia são minha inspiração, fruto de aprendizado. Foi quando me esqueci de pentear os cabelos, ou quando me preocupei com a temperatura do ambiente, foi quando me importei com o barulho em volta – e que antes eu não ouvia -, foi quando me importei com “mau olhado”. Foi quando me preocupei em passar pano no chão da casa todos os dias. Foi quando senti seu cheirinho de bebê em qualquer lugar que eu fosse. Foi quando passei a levar comigo, na bolsa, uma meia sua, com seu perfume. Foi quando senti saudades dele, quando fiquei longe por míseros 5 minutos.

Foi quando ele aprendeu a sentar, e quando fez careta ao provar a primeira sopinha. Quando falou “mamãe”, bem antes de aprender a falar qualquer outra coisa. Foi quando aprendeu a bater palminha e a engatinhar pelo chão da casa. Foi quando ele aprendeu a querer, e a dizer “nã” quando não queria alguma coisa. Foi quando inseri na lista de compras papinha, leite ninho, frutas e pomadas. Foi quando aprendi canções de ninar que minha mãe e minha avó cantavam e eu nem me lembrava. Foi quando me preocupei com a violência no mundo, e quando chorei com as noticias ruins do jornal. Foi quando não vivi mais a vida inconseqüentemente, e desejei morrer bem velhinha, só para não perder nada do crescimento do meu filho. Foi quando por inúmeras vezes queimei o almoço no fogo ao me esquecer do mundo, só para olhá-lo no berço. Foi quando perdi e ganhei quilos, ao ocupar meu tempo todinho com ele. Foi quando me esqueci de almoçar ou jantar, só para amamentá-lo. Foi quando ele passou de banguelinha a dentucinho, e quando aprendeu a morder meus dedos, que hoje estão sempre vermelhinhos... Foi quando me curei de cansaço só com sua risada. Foi quando vi meu corpo mudar depois da amamentação e do barrigão e ter certeza que faria tudo de novo, por mais que algo caísse. E foi quando me senti confortada ao ouvir do meu marido: “ta beeem melhor assim!”. Foi quando passei a amar mais meu marido, ao vê-lo se dedicar tanto ao filho, antes de qualquer coisa. Foi quando descobri que meu filho tem cócegas nos mesmos lugares que eu tenho. Foi quando lhe fiz cócegas, só para quebrar o silêncio da casa. E por tantas vezes ele, inocente e sem entender, deslizou suas mãozinhas no meu rosto cheio de lágrimas, quando por muitas vezes precisei chorar e só ele sabia me consolar, olhando e rindo para mim. E as enxugava sem saber, e passava a mãozinha na roupa, fazendo careta. Foi quando ele me fez companhia enquanto o papai saía para trabalhar. Foi quando ele despertou tanto brilho nos olhos do pai, e o fez virar criança de novo. Foi quando ele o fez falar com voz de criança e eu me surpreendi com esse lado coruja dele. Foi quando ele aprendeu a dormir do meu lado, na cama, assistindo TV. Foi quando seu pai ensinou que chocolate é muito bom, mas não pode não, viu?

Foi quando arrumei a bagunça da casa revirada, diariamente, só para que ele pudesse bagunçar de novo, ao engatinhar e descobrir tudo. Foi quando meus livros já não ficavam mais organizados na estante, separados por autor, cor, tamanho. Alguns já não têm mais capa. Foi quando comecei a ter opinião sobre marcas de fralda e lenços umedecidos. Foi quando chorei na sua primeira vacina, com pena da dor. Foi quando me preocupei em tirar objetos perigosos da sala e tapar as tomadas da casa. Foi quando isolei os produtos de limpeza. Foi quando ele aprendeu que celular é bom demais, e que tá na hora de ligar pra vovó Vera. E foi quando aprendeu a desligar, bem na hora que eu estava conversando com ela. Foi quando ele aprendeu a imitar os bichos, a torcer pelo time do pai, a fazer as coreografias, a bater o pezinho quando ouvia rock. Não fiquei um dia sequer sem me deleitar com uma risada gostosa, ao me divertir com suas estripulias inusitadas. Eu não consigo mais esconder meu brilho no olhar.

Há um ano nasceu um filho, nasceu meu filho. Há um ano, nasceu também uma mãe.

Nasceu um pai, nasceram avós, nasceram tias, nasceram sonhos e planos. Nasceram as fraldas empilhadas na cômoda. Nasceu a experiência de amamentar, de dar banho, de dormir pouco e zelar muito. Tudo assim, recém-nascido, com aura de alvorecer. Nesse dia, nasceu a lágrima de emoção. Nasceu o pranto de prazer, tão contraditório e tão sublime.

...E pensar que até pouco tempo atrás eu era só uma menina...

Hoje, trago comigo lembranças e aprendizado de um ano, e medalhas de honra que levarei comigo para toda a vida: minhas estrias e a cicatriz da cesárea. Levarei junto um amor inefável e inesgotável.

E pronuncio duas palavras como sendo o resumo da minha existência: meu filho."


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Hoje ele completa 3 anos. Um bebê crescido, mas para sempre meu bebê. Te amo, pequeno!
Hoje o dia é seu (nota-se, pela bagunça da casa. Unf)!

(meu modelinho PREDILETO. modéstiaapartenaturalmente)

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