O recurso patético ao proparoxítono humorístico ou sarcástico ou satírico

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ré mal sucedida numa rua sem saída

Não é poema, é dilema. Pára-choque amassado numa manhã de terça-feira. Tudo culpa do leite que acabou, da banana para a semana e do café de todo dia. Nem queria sair de casa, mas saí para a vida. E pimba. Se eu me tomasse pela superstição, diria piamente que olha, tá vendo, voltar no tempo não cabe a mais nada, que reviver o passado já não me soma e que a roupa velha já não me veste. Foi um sinal... E, veja só, nunca tive tanta pressa, nunca senti tanta saudade do que ainda não vivi, nunca corri tanto para longe da inércia. E eu, que sempre fui desobediente, obedeci. Sim senhor, viu? E chego a sentir remorso por não doer mais, por não amar mais, por não sentir falta, por deixar que o vento leve. Como eu fui obediente. Era tudo questão de costume, será? - mau costume, diga-se de passagem. Era só uma abstinência de conveniência. Acredito que sim. Uma ré nos sonhos, nos planos. Cansei dos retratos, já expulsei as ladainhas do coração. Quanta lucidez! Quanto novo sabor na boca! Em outra - em outra órbita. Sonhando acordada com outras coisas. Apressada para deixar meu nome no necessário. porque sou obediente. Quando me lembro que aquele tempo existe, é pelo vínculo que ainda nos resta. E foi lindo. Brindo com um irônico e mediano vinho chileno. Passou, vá, viveu-se. À ré, meus agradecimentos.



"a estrela cadente / me caiu ainda quente / na palma da mão...."
[Leminski]

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